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Foto do escritorSamantha Oliveira

"A Freira 2" precisa de uma reza braba, mas consegue exorcizar os demônios do passado

Atualizado: 28 de set. de 2023


Taissa Farmiga é a Irmã Irene em 'A Freira 2' | Foto: Divulgação

O que se pode esperar de A Freira 2? Após um fracasso nas críticas em relação ao primeiro, o novo longa do Invocaverso (franquia de sucesso de James Wan) conseguiu se estabelecer como um dos filmes mais esperados de 2023. Contudo, isso não garante que seja o melhor, é claro.


Seguindo os fatos que aconteceram no longa inicial, A Freira 2 traz Taissa Farmiga novamente ao papel de Irmã Irene e resolve eliminar, logo de cara e por um motivo besta, o Padre Burke. Apesar da decisão brusca, essa pode ter sido uma das melhores da franquia já que o personagem é dispensável até mesmo na primeira obra.


Agora o foco é no chamado Francês, personagem de Jonas Bloquet que, anteriormente, havia sido possuído pelo demônio “da Freira”. Para além disso, existe a adição de novas personagens, com destaque positivo para Debra, vivida pela excelente Storm Reid, que consegue adicionar uma camada de carisma à personagem. O roteiro, contudo, deixa a desejar na construção e profundidade da figura, além de repetir o recurso do primeiro filme com a história da freira que ainda não cumpriu os votos e não sabe se acredita em Deus de verdade. Paralelo a isso, a justificativa da companhia de Debra também pode ser questionada - mas estamos falando da sequência de um desastre, então os padrões não podem ser muito altos.


Chega de fantasmas do passado


Para não cair na zona de conforto em comparar os dois filmes, é necessário trazer os pontos positivos de A Freira 2 que, de certa forma, conseguem torná-lo mais suportável que o primeiro. De cara, é possível apreciar a produção (e orçamento) bem feitos com mais cenários, figurinos e até mesmo efeitos especiais mais aceitáveis. Apesar disso, os dentes de tubarão da famosa Freira (Bonnie Aarons) voltam a aparecer e assustar mais pela esquisitice do que pelo medo em si.


Taissa Farmiga e Storm Reid | Divulgação

A atuação de Taissa Farmiga convence e consegue mostrar a evolução da personagem ao mesmo tempo que introduz novos traumas que ainda precisam ser resolvidos. A química com Reid funciona e consegue montar uma possível “dupla dinâmica” caso decidam fazer uma nova sequência. Por favor, não. Nós imploramos.


Katelyn Rose Downey (Sophie) cumpre um ótimo papel ao viver a criança deslocada das demais e também consegue mostrar a personalidade da personagem nos momentos cruciais da trama. Essa capacidade, porém, não se estende para Anna Popplewell (sim, aquela de Nárnia) que não funciona como mãe, professora, interesse romântico ou personagem relevante para a trama, a ponto de não ser possível explicar se a culpa é da artista ou do próprio roteiro, que não oferece oportunidades suficientes.


Quando se trata do andamento do filme, quase todos os pontos positivos de A Freira 2 parecem ter se concentrado no terceiro ato, que é vibrante, violento e, em até certo ponto, assustador para quem curte um bom farofão de terror. Ao contrário do primeito ato, durante o qual é difícil realmente se manter acordado - os últimos minutos da produção conseguem unir as histórias que até então estavam paralelas e funcionar de um jeito aceitavelmente desastroso.


Apesar da edição de som não se destacar grandiosamente, vale ressaltar que a trilha sonora está bem controlada. Em um dado momento do ato final, a ausência de qualquer ruído constrói uma cena bonita de se assistir - apesar de impraticável na vida real. Para além disso, certos momentos precisam ser elogiados pela direção de fotografia (mas calma, não espere nada Wes Anderson vindo por aí).



Noites traiçoeiras


Cena de 'A Freira 2', de Michel Chaves | Foto: Divulgação

A Freira 2 tem muitos erros, mas o pior talvez sejam fatores sutis que podiam ter sido utilizados de outras formas. O famoso desperdício. Após o suposto sucesso em aprisionar a entidade maligna no primeiro filme, Irmã Irene deve buscar um novo artefato sagrado para tentar enclausurar a besta. E não é como se, em um mundo católico, não faltassem itens benzidos praticamente pelo próprio Jesus Cristo. Dessa vez, a opção é apelar para uma santa que convenientemente foi associada à história.


Neste caso, elementos bíblicos que foram incorporados à trama poderiam ser melhor desenvolvidos e explorados para que fizessem mais sentido e não passassem apenas de uma história auto explicativa contada por um personagem secundário. Além disso, adição de uma espécie de "inimigo B" demonstra a preguiça de lidar com os demais personagens que não os principais e ainda mostra uma caracterização nada amedrontadora de demônio - um alô para Black Phillip, de A Bruxa.


A trama poderia ser mais interessante também se o público já não soubesse o desfecho final do personagem. Por mais que, no último ato, seja interessante saber quais são os próximos passos, a escolha de fazer um filme no passado sobre algo que já está consolidado no futuro acaba tirando o mistério da resolução - afinal, essa não será a última aparição de Valak no universo.


No geral, a direção de Michel Chaves, responsável pelo penoso A Maldição da Chorona, consagrou o maior elogio de A Freira 2 como sendo “o filme que superou o primeiro”, de forma que, se tirar esse posto dele, nada sobra. O longa traz consigo a sintomática crise do terror farofão dos últimos anos, mas ainda assim se torna algo assistível - mostrando que o universo de James Wan ainda consegue cativar fãs empolgados para o que vier a seguir.


Veredito: 2/5


 

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