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"Acompanhante Perfeita" evidencia o pior da humanidade em slasher alucinante

Foto do escritor: Mikhaela AraújoMikhaela Araújo

Estrelado por Sophie Thatcher e Jack Quaid, filme consegue fazer críticas importantes em trama instigante


Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação
Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Obras audiovisuais sobre as consequências ruins de avanços tecnológicos são comuns há décadas. Nós, como seres humanos, ao mesmo tempo que nos fascinamos com a tecnologia, também a tememos bastante. Principalmente, porque sabemos que todas envolvem nós mesmos, os humanos. E nos conhecemos o suficiente para imaginar o pior dos cenários. A série Black Mirror é um ótimo exemplo desse imaginário.


Acompanhante Perfeita, thriller de ficção científica que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta (6), é mais uma obra que aborda a temática. O filme marca a estreia na direção de Drew Hancock. Um nome e uma estética que lembram uma comédia romântica dos anos 2000, somados a um roteiro surpreendente e instigante, que, juntos, proporcionam uma experiência cinematográfica divertida e, ao mesmo tempo, ácida.


Esse é um daqueles filmes em que, quanto menos você souber sobre a história antes de assistir, melhor vai ser sua experiência (foi o meu caso, inclusive). Porém, para os curiosos de plantão, segue uma sinopse sem spoilers.


Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação
Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Em Acompanhante Perfeita (2025), acompanhamos um casal, Josh e Iris, dois jovens que vão visitar o namorado magnata de uma amiga numa casa enorme no campo. Iris, interpretada por Sophie Thatcher (Yellowjackets), parece ter encontrado o amor da sua vida em Josh, interpretado por Jack Quaid (The Boys). Os dois se conheceram em um supermercado e, aparentemente, são o casal ideal dos filmes de romance. Mas, a expectativa do espectador é quebrada logo nos primeiros minutos do longa, quando essas palavras saem da boca de Iris:


"Houve duas ocasiões na minha vida em que fui mais feliz. A primeira, foi quando conheci Josh. A segunda… no dia que eu matei ele."

A partir daí, todos os desdobramentos da história vão construindo o que levou o casal a esse trágico fim. As sequências de ação dão adrenalina constante ao slasher, com muito sangue, suspense, atos inesperados e um toque de humor em algumas cenas, criando um resultado equilibrado.


Se você ainda não assistiu e quer ter a experiência com o mínimo de informações possível, sugiro que pare de ler o texto por aqui.


Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação
Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

Não demora muito para descobrirmos, junto com a própria personagem, que Iris é, na verdade, um robô. Um robô complexo, que até simula emoções humanas, mas, ainda assim, um robô.


No contexto do filme, é possível alugar robôs personalizados para eles serem a companhia amorosa perfeita. Você pode escolher todas as características físicas, personalidade, gosto, habilidades e até nível de inteligência do seu ou sua acompanhante. Ao ativar o robô, ele fica completamente conectado a você e vai dedicar 100% do tempo e energia só para o seu benefício. A oportunidade brilhou como diamante aos olhos de Josh, um jovem que, apesar de usufruir de todos os privilégios dados a homens cishéteros, magros e brancos, não conseguia encontrar uma namorada real que suprisse todos os seus níveis de exigência.


O wannabe incel aluga Iris e passa a namorar com a robô, que satisfaz seu emocional e sexual como nenhuma mulher real poderia. Iris não tem vontade própria, afinal. Não tem desejos que não sejam voltados para Josh. E, por isso, Josh tenta usar Iris para conseguir outras coisas além do que já tem todos os dias. É aí que tudo dá errado — ou, muito certo, se você observar do lado da cativante Iris.


Jack Quaid tem o rosto ideal para interpretar o tipo de homem babaca e mimado que Josh é. E o melhor da crítica do filme é o quão comum os seus personagens são. Não é nenhuma forçação de barra imaginar que um homem iria preferir uma robô do que uma mulher real para se relacionar. Antes de acordar para a realidade, Iris é o sonho médio da maioria dos homens heterossexuais: magra, sempre arrumada, sempre maquiada, sem questionamentos, sem traumas e, obviamente, burra.


Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação
Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

É interessante, inclusive, observar a diferença da dinâmica entre Josh e Iris para a dinâmica entre Eli (Harvey Guillén) e seu namorado robô Patrick (Lucas Cage). Eli, um garoto fora do padrão, foi atrás do aluguel de um robô para se relacionar por outros motivos, diferentes de Josh. Eli ama, verdadeiramente, Patrick, outro homem. Já Josh vê Iris como um objeto, de fato. Um reflexo de como ele enxerga mulheres no geral, sendo robôs ou não.


Sophie Thatcher está excelente aqui, assim como na série que a fez se tornar mais conhecida na indústria (Yellowjackets). A diferença da personagem no início e no final é visível através da atuação de Sophie, o desenvolvimento gradual de Iris fica evidente por conta do trabalho da atriz.


Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação
Foto: Warner Bros. Pictures/Divulgação

O ritmo aceleradíssimo do filme faz com que o tempo passe rápido e, por estar sempre entregando um acontecimento inesperado, você se mantém preso à história, ansiando pelas novas atitudes que aqueles personagens em cena vão tomar — que são, quase sempre, imprevisíveis.


Acompanhante Perfeita (2025) não chega a ser um filme com abordagens profundas sobre os dilemas éticos entre a humanidade, objetos, capitalismo e tecnologia como alguns clássicos — oi, Blade Runner, estou falando de você —, mas, consegue cumprir o objetivo de causar reflexões bastante desconfortáveis sobre a nossa sociedade atual. É um slasher com um ótimo ritmo, muito sangue, violência bem coreografada e um senso estético impecável que dá o toque final. O suficiente para prestarmos mais atenção aos próximos projetos de Drew Hancock.


Veredito: 3,5/5

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