"Alien - Romulus": A juventude que não quer só sobreviver aos monstros
Atualizado: 21 de ago.
Novo capítulo da franquia traz várias referências aos outros filmes, mas se sustenta com os próprios pés
O xenomorfo ataca novamente!
A princípio, o monstro de “Alien: Romulus” (2024, dir. Fede Álvarez) - que estreou nesta quinta (25) nos cinemas - é o mesmo que já conhecemos desde “Alien - O Oitavo Passageiro”, em 1979, mas o novo filme se destaca - positivamente - por questões particulares.
Dessa vez, a Ripley da vez é Rain (Cailee Spaeny), que vive uma vida difícil em uma das colônias controladas pela Weyland-Yutani, a empresa toda poderosa (e inescrupulosa) presente nos filmes.
Atuando juntamente a uma imensa força de trabalho em minas insalubres, que adoecem e matam pouco a pouco diversos trabalhadores. Qualquer semelhança com a atual rotina trabalhista que vivemos não é mera coincidência.
E mesmo nos momentos de descanso, não há a paz necessária: o planeta não é iluminado pelo sol, sendo uma noite perpétua. Com isso, o sonho de Rain é cumprir as horas de trabalho necessárias e viajar para Yvaga, um lugar ensolarado distante dali.
É numa missão aparentemente inofensiva ao lado de colegas - igualmente jovens e igualmente sem tempo a perder - que ela cruza o caminho da temida espécie extraterrestre que dá nome à série.
A produção explora o encontro do xenomorfo com jovens adultos, e tem tudo para gerar identificação entre o público dessa faixa etária, justamente pela forma particular como aborda a desumanidade das corporações e do modo de vida que elas impõem a eles.
Dessa vez, a escolha é mostrar pessoas que bancam correr riscos para escolher "viver" ao invés de “sobreviver” de forma insalubre e sem respiro, meramente a esperar a moagem da máquina capitalista.
Essa abordagem focada nos trabalhadores comuns - e em uma faixa etária diferente - ajuda a diferenciar os filmes dos demais e traz um complemento bem-vindo a “Alien: O Resgate”, que mostra as piores consequências da ganância corporativa para os trabalhadores.
Ambientado em sua maioria em uma estação espacial desativada, “Alien: Romulus” une a tensão e o horror, presentes no primeiro “Alien”, e também maiores toques de ação e o enorme senso de urgência presentes na sequência do filme original, “Aliens: O Resgate”, de 1986.
Algumas cenas do final são referências diretas a sequências desse segundo filme, ainda que com novidades, e são o ponto alto do filme. No caminho até o clímax, certos momentos de body horror - subgênero já conhecido do diretor Fede Álvarez, que já dirigiu “A Morte do Demônio” (2013) - também chocam bastante.
Ainda assim, é possível encontrar - ao longo da obra - sequências onde o senso de tensão, medo e/ou aventura acaba sendo dissipado por uma edição um tanto picotada demais.
Alguns personagens não geram tanto engajamento emocional e não possuem personalidades tão detalhadas, servindo mais para ampliar a lista de mortes nas mãos do monstro, mas o vínculo dos papéis de Cailee Spaeny e David Jonsson ancora todo o filme.
Enquanto Cailee se destaca em sua Rain, uma heroína determinada, corajosa e com desenvolvimento de personagem satisfatório durante o filme, David consegue mostrar uma versatilidade considerável ao interpretar o androide Andy, um dos personagens que mais cativam.
Seres sintéticos são um tema recorrente na franquia Alien, assim como as discussões sobre suas possíveis intenções maléficas e seu grau de humanidade. Aqui não é diferente, mas roteiro e atuações convergem para tornar a trama de Andy mais um ponto positivo da produção.
A relação de irmandade entre Rain e Andy é um dos indicativos de que o próprio conceito de “irmandade” é um tema central, inclusive pela estação espacial onde a história é ambientada, dividida nas metades Romulus e Remus, irmãos fundadores de Roma, segundo a lenda.
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A obra destaca como laços sanguíneos e emocionais são ameaçados pela vida cruel imposta pela organização social desse universo ficcional, e como essa organização está disposta a deturpar tais laços de forma monstruosa para atingir seus objetivos.
Diante disso, a insistência dos personagens em sobreviver ao monstro - e salvar não só a si, mas uns aos outros - soa não só como um mero instinto humano básico, mas quase como um ato de rebeldia.
E outro destaque vai para o aspecto visual. “Alien: Romulus” é um filme bonito de se ver e de se olhar, com cenografia impecável, cuja ambientação e tecnologia remetem bastante ao longa original de 1979.
O bom olho de Fede Álvarez para imagens também ajuda a tornar a produção algo bastante prazeroso de se olhar, com algumas sequências e frames interessantes, estilosos e bem pensados, especialmente em cenas no espaço.
São esses detalhes que ajudam “Alien: Romulus” a ter seus pontos de destaque em meio a uma franquia de altos e baixos, que já dura mais de 40 anos. A crítica corporativa é mais válida do que nunca; a história é familiar, mas nunca cansativa; a heroína agora é outra, mas também inspira torcida.
Às vezes, parece que o xenoformo, depois de muito apanhar, se foi de vez, mas ele segue de pé. Assim como nós, que somos jovens.
Veredito: 3.8/5
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