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Foto do escritorBianca Dias

Antes de ser trendy, era preto: conheça 6 tendências originadas da comunidade negra

Atualizado: 23 de nov.

Neste Dia da Consciência Negra, você vai ver como Moda é reflexo de história, cultura e identidade preta



Você é daqueles que não dispensa uma boa baggy jeans, um tênis chunky e uma t-shirt oversized trabalhada na logomania? Pois talvez você não tenha ideia o quanto seu look foi influenciado pela cultura preta. Posso estar publicando este texto logo no Dia da Consciência Negra, mas é inegável que carregamos com a gente diariamente um plural de alusões e costumes culturais criados por aqueles que, décadas atrás, não tinham referências no TikTok ou Pinterest para se inspirar. 


O que a gente veste hoje, e é apropriado por tantas outras etnias, é datado por uma luta histórica de proteger suas raízes, fortalecer a identidade do seu povo e criar um sentimento de pertencimento. Hoje, ele enfim tem seu espaço e é abraçado pelo mainstream, sendo desfilado nas passarelas e virando grandes trends fashion - mas quem sabe, sabe. Nem sempre foi assim. 


Foi pensando nisso que a TAG Revista separou algumas tendências que estão em alta e carregam uma memória de representatividade preta que você nem imagina. Continua lendo e bora entender um pouco o que está por trás delas! 



Lettuce Hem


Sabe aqueles croppeds ou vestidos que possuem um tipo de acabamento de costura com uma borda encaracolada? Esse é o famoso Lettuce Hem (no portugês tagger, ‘bainha de alface') e foi inventado pelo designer afro-americano Stephen Burrows nos anos 70.


Diferentemente das técnicas de costura da época, Burrows adorava explorar o diferente e se tornou pioneiro em um ponto zigue-zague estreito. O profissional se firmou por sua excentricidade e logo daria vida à bainha da alface por conta de um pedido da icônica editora da Vogue e Harper's Bazaar, Diana Vreeland. Ela desejava uma roupa na cor ‘alface’, que se tornou inspiração para o designer criar a bainha nublada dando um efeito de babado. 



A técnica ganhou força e foi se reinventando, invadindo os guarda-roupas principalmente femininos durante os anos 90, com as baby tees que até hoje são queridinhas de tantos. 



Bucket Hat


A história do bucket hat tem uma origem mais funcional do que de estilo, uma vez que surgiu na Irlanda no início do século 20 como um acessório para pescadores e agricultores se protegerem do sol e das chuvas.


Porém, como sabemos, a Moda se reinventa, e, durante a década de 1960, esse chapéu se tornou popular graças à sua inclusão nos looks de grandes personalidades da cultura pop. Ele conquista um papel revolucionário ainda maior quando, nos anos 80, se torna um elemento básico no cenário do hip-hop, virando um símbolo da cultura urbana preta e ganhando o coração de famosos como LL Cool J, Outkast e Missy Elliott. 



Atualmente, o bucket hat vive seus altos e baixos, mas com certeza é um acessório que tem seu lugar guardado na gaveta, para ser usado tanto num bad hair day que só pede por conforto e proteção, como num look que só fica completo com o toque de estilo desse chapéu.



Grillz


Senta que lá vem história: os primeiros a colocar pedaços de metal sobre os dentes foram os etruscos e maias, civilizações antigas que, entre cerca de 800 a.C. e 900 d.C., acreditavam esse costume ser uma declaração de riqueza. Os milênios se passaram e os Grillz reaparecem no final da década de 1970, principalmente em bairros negros da cidade de Nova York. 


Entretanto, naquele momento, os dentes de ouro não simbolizavam estilo, mas um espelho das dificuldades econômicas que as pessoas estavam passando e não tinham condições de arcar com cuidados odontológicos. Foi, ironicamente, uma solução prática.


O que tinha iniciado como um substituto de dentes, logo se tornou um item de moda. Influenciados indiretamente pelos precursores dos Grillz, jovens negros os transformaram numa tendência de ostentação que até a elite atingiu. Em 1975, por exemplo, a modelo Grace Jones seria fotografada usando uma grelha de ouro maciço para uma matéria da Vogue Hommes. 



O sucesso dos Grillz foi potencializado em 1980, mais uma vez pelo poder da cultura hip-hop. Nomes como Atlanta Kilo Ali, Raheem the Dream, Slick Rick, Big Daddy Kane e Kool G Rap arrasaram com os dentes brilhantes e seguiram ditando tendência até os dias de hoje.




Ombré Lips


Você é fã de um lip combo de poder? Então chegou sua hora de brilhar - vamos falar dos ombré lips.


Os lápis de boca foram inventados nos anos 20 destacando um padrão de beleza americano um tanto branco, mas até os anos 80, poucos eram os tons existentes e acessíveis para as mulheres negras. Elas, então, foram criadoras de sua própria beleza.


A maioria, que não tinham tantas ferramentas ao seu alcance, usavam lápis de sobrancelha e delineador, que normalmente vinham em tons de marrom escuro e preto, para definir os lábios. Em vez de misturar suavemente o batom no delineador para criar um ombré perfeito, as bordas eram deixadas em negrito, criando um forte contraste com a cor do lábio que se colocava um tom mais claro ou vibrante.


A técnica doméstica e um tanto eficiente logo conquistou figuras negras da cultura pop como Lil' Kim, Missy Elliott e Mary J. Blige, que usaram sua fama para popularizar no mainstream o padrão de beleza definido por sua comunidade.


No final dos anos 90, o ombré lips se estabeleceu no mercado da maquiagem, ainda mais com celebridades brancas como Pamela Anderson aparecendo usando versões do estilo, modificadas para se adequarem aos seus tons de pele. O que foi criado para celebrar a feminilidade negra diante da estrutura social branca, se tornou sofisticado, ousado e moderno para todas.



Colar personalizado 


Muito antes de Carrie Bradshaw perder seu colar "Carrie” em Paris durante a última temporada de Sex and the City, já tinha muita gente usando o acessório para marcar sua identidade. 


Esse tipo de colar se originou nas comunidades afro-americanas e latinas nas décadas de 1980 e 1990 de Nova York como uma forma de celebrar suas identidades e herança cultural. Ainda mais, era um marcador da existência de alguém em uma sociedade e cultura que tentou apagar sua humanidade, por meio de genocídio, escravidão, violência policial e discriminação. 


Durante esse período, eles podiam ser comprados por vendedores ambulantes que logo popularizaram o produto - foi assim, inclusive, que a figurinista de Sex and the City, Patricia Field, ficou sabendo do colar. Ela afirmou que viu crianças negras e porto-riquenhas em seu quarteirão usando o item e decidiu colocar como parte do guarda-roupa de Bradshaw. 


Com a fama, os colares com placa de identificação se tornaram um item básico da cultura hip hop, que os usavam não só como tendência fashion, mas como um meio de autopromoção e branding.


Atualmente, vemos esse acessório de todas as formas: bijuteria, joia, exagerados, delicados… Mas todos carregando esse sentimento de identidade por quem os usa. 


Nail Art


Estética clean girl? Aqui não, amor - vamos falar de Nail Art! 


As unhas de acrílico surgiram pela primeira vez na década de 1950, quando o dentista Fred Slack Jr. criou a base para o processo que usamos até hoje. A técnica logo foi adotada pelas mulheres negras como sinal de feminilidade e estilo, como foi o caso de Donyale Luna, a primeira mulher negra na capa da Vogue em 1966, que foi fotografada usando acrílicos. 


Nos anos 70, ícones como Donna Summer, Diana Ross e Millie Jackson dominavam as paradas disco, e os acrílicos vermelhos brilhantes eram seu visual preferido, servindo de referência para grandes nomes de influências como Flo Jo.


Na década de 1980, o mundo conhecia Florence Griffith-Joyner (uma ex-técnica de unhas) que ganhou o ouro olímpico de atletismo usando unhas multicoloridas de 15 centímetros. Sua escolha de estilo a fez ganhar grande destaque visual na pista, confrontando o ideal da época que valorizava as manicures francesas e de tons pastéis - um claro sinal da beleza branca e heteronormativa. As unhas longas, esculpidas e retocadas, por outro lado, eram marcadores de negritude e feminilidade marginalizada.



Apesar das críticas, a nail art sobreviveu graças à resiliência de quem a criou. Ela foi florescendo e evoluindo na cultura negra ao longo das décadas de 1990 e 2000, por conta de rappers como Missy Elliott e Lil Kim arrasando com acrílicos, sem medo de recuperar as suas próprias narrativas e celebrar a beleza do seu povo.



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