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Foto do escritorMikhaela Araújo

"Asteroid City": existencialismo no deserto vibrante de Wes Anderson


"É sobre o infinito e não sei o que mais". Essa é a descrição da peça Asteroid City dada por um personagem do novo filme de Wes Anderson, 'Asteroid City', que chega aos cinemas nesta quinta (1o). A metalinguagem é a principal chave do longa: o filme acompanha a história de uma peça, ou seja, é uma história sobre uma outra história que tem uma outra história dentro de si. E o filme, assim como a peça que se passa dentro dele, também pode ser descrito como sendo "sobre o infinito e não sei o que mais".


Em sua nova obra, a estética já conhecida do diretor está mais presente e forte do que nunca. É inegável que o filme é bonito e visualmente agradável e atrativo. Um ponto interessante é a saturação das imagens em technicolor, que lembram diretamente propagandas dos anos 1950 dos Estados Unidos, contexto local e temporal em que o longa se passa. Nessa época, a tão temida ameaça do comunismo se materializava em diversas histórias sobre invasões alienígenas. É nesse pretexto que nasce o roteiro de Wes Anderson e Roman Coppola. Os personagens da peça retratada no filme vão visitar uma cidade de 87 habitantes localizada no deserto americano, chamada Asteroid City ("Cidade do Asteróide", em tradução livre), onde um meteoro deixou uma enorme cratera milhares de anos antes. A visita se dá por conta de um concurso de astronomia, até que os personagens são visitados por uma criatura alienígena e ficam em quarentena, presos pelo exército.


A peça, escrita pelo personagem de Edward Norton, o autor Conrad Earp, tem três atos. A metalinguagem do filme é tamanha que até mesmo um discurso dentro da peça é dividido por atos. A quantidade de personagens do filme é imensa, ainda por cima quando consideramos que cada personagem da peça dentro do filme é um outro personagem diferente fora da peça, o que acaba atrapalhando. O telespectador não consegue se importar verdadeiramente com nenhuma das pessoas, apesar de gostar da maioria.


As cenas mais interessantes - além da aparição divertida do alienígena - envolvem diálogos entre os personagens de Jason Schwartzman e Scarlet Johansson, além das que envolvem as crianças e adolescentes da peça. Os momentos que se passam fora da peça acrescentam pouco à história, com raros pontos chamativos. Um desses pontos de destaque é crédito de Margot Robbie, que marca sua estreia de trabalho com o diretor. Ainda no tópico "vasta gama de personagens", ver Seu Jorge novamente na tela do cinema num filme de Wes Anderson traz uma ótima sensação para qualquer brasileiro.


"Asteroid City" defitivamente não é só um filme sobre uma peça dentro de um filme. A forma com que o longa não é nada óbvio de início é intrigante, e observar como tudo vai se entrelaçando entre os personagens dentro e fora da peça é uma experiência singular. Aqui, Wes Anderson aborda o luto, a morte, o existencialismo e o autoconhecimento. Assim como ele fez no (pior de sua carreira, como diz a maioria) filme anterior, "A Crônica Francesa" (2021), fala principalmente sobre como a arte pode ser libertadora, sendo por meio dela que conseguimos enfrentar a inevitabilidade dos acontecimentos da vida e que, muitas vezes, nada precisa ter sentido para acontecer. "Estou fazendo certo?", se questiona em certo momento Augie, ator interpretado por Jason Schwartzman. Ele ainda não entende por que seu personagem queima a mão deliberadamente, nem nós, mas não precisamos entender.


O elenco é excepcional, mas a maioria dos talentos é desperdiçado, com aparições que não fazem jus ao potencial. Entre os nomes, além dos já citados, estão Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Matt Dillon, Bryan Cranston e Tom Hanks. Muitos mal aproveitados, não recebendo quase nada para fazer no filme, como é o caso do último mencionado.


Apesar das reflexões dramáticas pertinentes e da bem vinda comédia sutil e peculiar já característica do diretor, "Asteroid City" tem tantas informações, personagens, tramas e cortes, que acaba, sem querer, se tornando monótono. Mesmo tendo apenas 1h45, a sensação é que o filme é mais longo. Como telespectador, você fica desorientado na areia do deserto brilhante e bonito de Wes Anderson e perde um pouco o interesse no desenrolar daquelas histórias na tela, principalmente numa primeira assistida. Em resumo, além de ser sobre o infinito e não sei o que mais, o novo longa do diretor que ganhou até trend no TikTok acaba se perdendo dentro do próprio estilo de seu autor, mesmo que seja um frescor em relação as suas últimas obras. E, acima de tudo, vale ser visto, especialmente por ser, também, uma carta de amor à linguagem.


Veredito: 2,7/5



 


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