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Foto do escritorRayane Domingos

"Bandida - A Número Um" tenta empolgar com história interessante, mas derrapa na execução

O novo filme de João Wainer tem um roteiro confuso e consegue se destacar na boa atuação dos protagonistas



Tudo o que envolve o início e a ascensão de facções criminosas e do tráfico de drogas no Brasil, gera uma grande curiosidade, seja para saber o que motivou a entrada das pessoas nesse "novo mundo" ou para entender o que se passa na cabeça de cada um que vive entre a vida e a morte. É pensando nessa premissa que Bandida - A Número Um, novo filme de João Wainer, se apoia.


O longa é baseado no livro 'A Número Um', romance escrito por Raquel de Oliveira, que foi chefe da boca da Rocinha na década de 1980. No livro, ela faz um grande relato sobre como foi vendida pela avó aos 9 anos para um dos líderes da comunidade até o casamento com um dos líderes, anos depois, e como foi chefiar uma das maiores favelas do Rio de Janeiro.


O filme é estrelado por Maria Bomani, Jean Amorim, Milhem Cortaz, Wilson Rabelo, Natália Lage, Kelner Macêdo, João Vítor Nascimento e grande elenco. 



As produções nacionais que tratam sobre o tema costumam ser densas e com um roteiro mais trabalhado, até desenhado, sobre como funciona esse mundo paralelo cheio de regras e minuciosidades. A adaptação também faz esse papel de explicar como as coisas aconteciam na década de 80/90, quando tudo começou a virar negócio na comunidade. E isso, aliado à narração em primeira pessoa, são as únicas coisas positivas do roteiro, já que erra em outras situações.


Quando se pensa em uma adaptação, ou inspiração, de uma história real, espera-se que o enredo siga uma linha com menos furos e que dê prioridade aos momentos de maior tensão, o que não acontece completamente. É louvável que explique desde a infância sofrida de Rebeca, a venda para uma das lideranças do morro, a relação com a religião e como começou a se envolver, aos poucos, nos negócios ilegais.


Mas o momento mais interessante, quando ela assume a posição de responsável e o desenrolar dramático da história e desafios que envolve uma mulher neste meio, é pouquíssimo explorado. A ideia de ter sido uma curta passagem dela no poder transmite muito mais a um erro do roteiro do que necessariamente a ideia de que a vida no crime é volátil, por exemplo.



A partir da metade do filme, tudo se desenrola de forma corrida e até confusa. E é nesses momentos que os furos se tornam evidentes, principalmente na relação entre Pará e os outros traficantes e a ascensão dele à chefia. Isso faz com que o espectador não consiga se conectar com o personagem como o filme propõe, de forma humana e que, mesmo no fundo, a gente se compadeça das ações dele.


Essa rapidez nos momentos mais cruciais do filme, a parte final em que ela chega ao poder e luta contra os inimigos, é completamente desperdiçada. Fora isso, o longa parece ter ficado inacabado quando não se mostra, pelo menos, como ficou a vida dela depois que saiu do tráfico. Quem não conhece a história, acredita que ela faleceu ou que ainda continua presa, caso ela tenha sido realmente.


O fator surpresa também não é algo tão presente no filme como poderia. Mesmo a história sendo de conhecimento geral, a direção poderia ter colocado alguma cena que realmente surpreendesse o público. As cenas de ação são boas, mas a sensação que temos é que já sabemos o que vai acontecer no final.



O grande destaque na atuação fica para Maria Bomani, que consegue traduzir os conflitos existentes na vida de Rebeca com muita veracidade, beleza e humanidade. A personagem viveu um drama tremendo desde a infância e sofre, mesmo nos momentos mínimos de felicidade. Ela faz uma ótima dupla com Jean Amorim, que também consegue defender o jovem que queria ter uma vida diferente e foi levado ao crime. 


Milhem Cortaz e Wilson Rabelo são um show à parte quando aparecem na telona. A irmandade entre os personagens e o jeito em que eles se conectam é primoroso, mas não surpreende pela qualidade que já apresentaram em diversos trabalhos.


Um grande erro da produção é, com certeza, ter aprovado a participação de não atores, ou de atores sem tanta experiência, para exigência do filme. Em cena, a diferença fica ainda maior, e acaba por tirar o foco do que está sendo proposto e no fundo, a gente não consegue embarcar completamente na história.


Apesar disso, o filme se mostra visualmente agradável e traz todo o clima de comunidade desde o início, quando crime organizado e o tráfico de drogas não era uma realidade tão latente, até o momento mais “atual” em que o poder paralelo domina e guerreia por espaço e clientes. A caracterização dos personagens é ótima e coloca o espectador dentro daquele universo dos anos 90/2000. 


Por fim, a sensação que fica é que o filme ficou no “quase”, no limiar entre ser algo básico com a força potente de uma história.


Nota: 2,5/5




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