"Barbie": filme diverte mas, acima de tudo, emociona
Atualizado: 20 de jul. de 2023
Boneca ganha produção voltada para o público adulto e reflete sobre patriarcado e outras problemáticas vividas pelo universo feminino
*Contém spoiler!
Desde a infância, meninas brincavam com suas bonecas e eram ensinadas que sua função social era aquela: ser mãe. A estreia da Barbie no mercado, em 1959, no entanto, chegou para revolucionar a mente das pequenas, mostrando que a vida vai além dos filhos e maridos e elas são capazes de tudo, podendo representar uma figura de poder em qualquer profissão (ou profissões) que tenham escolhido.
O filme "Barbie" (2023) explora exatamente essa representatividade mascarada - ou melhor, plastificada - que a boneca trouxe para o público feminino. Na chamada Barbieland, habita um grupo de diferentes facetas de Barbies e Kens, em que elas comandam o congresso, pilotam aviões e são anfitriãs de festas, enquanto eles só querem sua atenção e fazem de tudo para conquistá-la.
Porém, uma das bonecas, interpretada por Margot Robbie, começa a viver situações que fogem do padrão perfeito daquele universo cor-de-rosa: ela acorda com mau hálito, seu pé fica chato e até pensamentos sobre morte passam a perturbá-la.
Essa mudança de comportamento faz com que a chamada Barbie Estereotipada parta em uma aventura com seu fiel escudeiro, Ken (Ryan Gosling), rumo ao mundo real, para descobrir o que aconteceu e buscar uma maneira de consertá-la até que volte à sua vida perfeita de todos os dias.
O mundo real, na verdade, é a Kenland
Quando a boneca chega em Venice Beach, em plena cidade de Los Angeles, a Barbie percebe que a praia difere muito daquela da Barbieland.
É nessa mudança de cenário que o longa começa a explorar seu principal enredo: fazer uma sátira sobre os papéis de homens e mulheres na sociedade. Ao pisar no mundo real, o Ken automaticamente passa a ganhar admiração simplesmente por conta do seu gênero, enquanto a personagem vivida por Margot Robbie também atrai olhares, mas por pura objetificação do sexo masculino.
O filme faz inúmeras piadas sobre o patriarcado, chegando até na própria Mattel, comandada por um grupo de homens e mostrando que até atrás das Barbies presidente, diplomata ou médica, há uma figura masculina ditando o melhor comportamento a se seguir.
Não é novidade que a pauta feminista guie a produção, afinal quem está por trás é a diretora Greta Gerwig, com produção da própria Margot Robbie. A primeira delas se consagrou com o discurso da representatividade feminina em outras de suas obras, como "Lady Bird" (2017) e "Adoráveis Mulheres" (2019).
Em "Barbie", no entanto, o conceito chega de uma forma renovada e brinca com a história e o significado da boneca na sociedade. Sim, ela pode exercer mil e uma profissões, porém quem vai lucrar com isso serão os homens no comando da Mattel.
What was I made for?
O humor cor-de-rosa nos guia em todo o filme, entretanto "Barbie" se vangloria em seus momentos emocionantes, quando a boneca deixa seu lado artificial de lado e começa a abraçar sua vulnerabilidade. A Barbie Estereotipada, que tanto é amada e ovacionada por ser perfeita, foi criada para quê? Esse é um caminho de autoconhecimento que a personagem de Margot Robbie passa a protagonizar quando convive com os humanos.
Em todo seu tempo na Barbieland, ela nunca percebeu que representa padrões de beleza difíceis de ser alcançados e uma felicidade diária que não é real. Quem brincava com ela na infância, se jogava em sua mente criativa e inúmeras possibilidades de carreira. Porém, ao chegar à fase adulta, percebe que a inspiração na boneca não passava de uma grande ilusão.
Esse é um ponto importante do longa que mostra como ele não foi pensado para o público infantil, já que essa reflexão será verdadeiramente entendida somente pelos adultos que um dia foram crianças e carregam em si a nostalgia de brincar com a boneca, que se afasta tanto das suas atuais obrigações.
Quem representa os maiores no filme é a atriz America Ferrera, que se consagra por ajudar a Barbie a entender que a boneca pode ser essa válvula de escape para tantas mulheres se inspirarem e confrontarem os preconceitos de gênero que rondam seu dia a dia. Acaba que, no fim, a conexão entre humano e brinquedo atinge outro patamar e consegue transformar não só a Barbieland, como o mundo real.
Chegando em sua reta final, a Barbie consegue, enfim, entender por que ela foi criada e como a vida fora do universo cor-de-rosa é tão especial exatamente por ser emocionante e fugir da perfeição, quando precisamos lidar com os desafios, preconceitos e a maravilha que é viver. A boneca pode ser até estereotipada pelo seu físico, porém ela nos surpreende com sua capacidade de ser quem quiser - até humana.
Observações em glitter rosa:
Atuação fantástica de Margot Robbie e Ryan Gosling! A atriz é excelente em mesclar seu lado artificial e real ao mesmo tempo, enquanto ele é a verdadeira personificação do boneco;
Melhor faixa da trilha sonora vai para ‘What Was I Made For’, de Billie Eilish. A música representa toda a descoberta intrapessoal vivida pela Barbie;
Fãs da Barbie, apesar dos mil e um spoilers publicados durante a divulgação, ainda se divertirão com tantas referências a modelos antigos de versões da boneca e seus acessórios;
Como uma amante de Moda, senti falta de mais referências a essa faceta da Barbie, afinal a boneca é conhecida pelo seu lado fashionista e ditar tendências - quem acompanhou os looks vestidos por Margot Robbie nas coletivas de imprensa e première também ficará com gostinho de quero mais!
Veredito: 4,5/5
Texto arretado!
Melhor crítica do Filme que já vi até aqui!