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Foto do escritorRayane Domingos

"Coringa: Delírio a Dois" decepciona ao faltar muito e sobrar demais

Atualizado: 4 de out.

O filme estrelado por Joaquin Phoenix e Lady Gaga não é bom e vai continuar dividindo opinões da crítica e do público



A confirmação de uma sequência de Coringa animou os fãs que gostaram da história contada no primeiro filme. Mas, o anúncio de que seria do tipo musical fez com que a desconfiança pairasse sob a produção, principalmente para saber como o enredo seria construído em cima disso.


Coringa: Delírio a Dois segue os acontecimentos após o primeiro filme quando Arthur Fleck é preso em um hospital psiquiátrico após assassinar o apresentador Murray Franklin ao vivo. Enquanto aguarda o julgamento, ele se apaixona por Harleen "Lee" Quinzel, uma fã que é obcecada pelo palhaço e que está internada no mesmo local.


O longa é dirigido por Todd Phillips e estrelado brilhantemente por Joaquim Phoenix e Lady Gaga. Apesar dos momentos de sintonia, elegância e entrega total dos atores, e de todo o elenco, o filme erra com a falta de um roteiro para contar uma história e sobra demais em cenas musicais que não agregam.


Atenção, essa crítica não vai conter spoilers sobre o filme


O que poderia ter sido



Dar continuidade a uma história que parecia acabada não foi uma boa ideia por parte da produção. A situação fica ainda mais complexa quando se percebe que a repercussão negativa sobre a violência fez com que o diretor cedesse nas escolhas para o segundo filme.


Delírio a Dois não deixa de ser violento, e muitas vezes gratuita, mas a vítima é Arthur em uma outra perspectiva, como se fosse uma punição normal ao personagem que assume uma postura diferente na história. O diretor parece querer se redimir pelo "monstro" criado e a repercussão dele, uma atitude errada, na minha visão.


Apesar das milhões de problemáticas que surgiram a partir de Coringa, o filme não pode ser responsabilizada pela interpretação individual de cada um. A arte existe e ponto final. Mas o que parece é que o diretor quis “educar” e até punir o público pelas consequências disso.


O personagem perdeu a ambiguidade e complexidade que era característica, do fator surpresa, da tensão, do receio que passava para o telespectador. E isso tem mais a ver com o roteiro do que pela atuação de Phoenix.


No começo do filme você vai empurrando, tentando buscar algo para se prender até chegar nas cenas do tribunal. A frustração fica ainda maior porque todas parecem infindáveis e sem sentido, com o roteiro indo no caminho mais básico e previsível.


Não existe tensão, não existe expectativa sobre o inesperado, do que ele pode fazer para mudar aquilo. Fica tudo mais do mesmo, sabemos o que vai acontecer que nem precisaria de horas da ida e volta do julgamento.


Não é uma surpresa que o fato de ser um musical iria desagradar a maioria, e a justificativa no filme para que a música seja inserida não faz tanto sentido. Mas o problema não é apenas esse.


As cenas musicais quebram o drama e a pouca tensão que existe no filme. Boa parte delas são desnecessárias e entediantes, mesmo com os vocais belíssimos de Gaga e Phoenix. E o excesso atrapalha o andamento da pouca história e pode confundir o público, que vai ficar distraído tentando entender o que está acontecendo.


O que foi realmente



Um dos pontos positivos do filme, além da atuação, é a maneira que ele é mostrado. A direção é boa e até ousada nas cenas de mais complexidade. É interessante ver como elas são realizadas, principalmente as que dependem de mais pessoas. Os efeitos usados são ótimos e nada exagerado que pareça mentira.


A fotografia é destaque por ser um filme esteticamente bonito, mas também por conseguir expressar a sensibilidade das cenas, sobretudo de mais violência. O filme é um pouco escuro, é compreensível pela semiótica, mas isso não atrapalha de mostrar o que está acontecendo.


A crítica sobre a sociedade do espetáculo e como a idolatria cega, e política, em cima de pessoas ou causas é algo que nos faz refletir enquanto assistimos as cenas. Essa inversão de valores que o diretor escancara consegue passar o recado de quão absurdo é a postura das pessoas que cultivaram qualquer tipo de afeição ao personagem, isso dentro e fora das telas.


E para mim, o grande triunfo do filme é, sem dúvidas, a atuação de Gaga e Phoenix. O elenco todo está muito bem, e tem o quê de mistério sobre a personalidade deles. Acredito que muito disso seja por serem personagens novos, nenhum rosto foi visto no primeiro. Mas a felicidade dá uma pausa aí porque o roteiro não deixa que eles vão tão longe.


Sobre os atores principais: não foi uma surpresa a ótima performance deles no filme. Ninguém duvidou de que Gaga e Phoenix iriam dominar a tela de uma forma que tudo ao redor se tornasse pequeno. Os dois estiveram conectados a todo tempo, se divertindo e trocando um com o outro assim, naturalmente. Eles são o Coringa e a Halerquina, ninguém duvida disso. 


Quando foi anunciada, o público queria ver como a cantora poderia se superar após Nasce uma Estrela. Pelo histórico, o receio era que ela ficasse caricata ou até "over" demais. E isso não acontece. Gaga chama os holofotes para si e nem precisa estar cantando para isso.



De fato, Gaga tem pouco espaço no filme e poderia ter sido mais explorada, como ter menos cenas cantando e mais atuando, mostrando mais da personagem. A ausência dela se faz questionar se o roteiro, novamente ele, conseguiu escrever algo complexo como a personagem e ela merecem. O que parece é que a cantora foi convidada muito mais pelo nome de peso. E sabemos que, apesar da comicidade do processo criativo enquanto atriz, ela consegue entregar tudo isso e muito mais.


Falar sobre a ótima atuação do Phoenix como Coringa parece ser mais do mesmo, mas é sempre bom exaltá-lo. É até perturbador como o ator se dá ao personagem, sem medo de parecer ridículo ou forçado. O jeito que ele coloca o corpo à mercê da cena, da arte é algo incrível, de verdade. Não é um choque porque ele trabalha assim, mas chama a atenção, por exemplo, as imagens dele nas premières. É uma pessoa completamente diferente, não apenas na personalidade, é o corpo, o jeito de se portar, até mesmo andar.


O segundo filme não deixa o Coringa ser tão livre para o que foi no primeiro, problemático mesmo, sem medo de ser mal por ser mal. Parece mesmo que o roteiro o contém, deixa mais "humano", em uma tentativa sem sentido de amenizar as características ruins do personagem.


E chegou ao fim



No fundo, o que se salva realmente é a atuação de todos, fora as questões mais técnicas. O problema maior foi a decisão errada em dar sequência a algo acabado. A dita ousadia do diretor, em ter criado um musical, parou por aí. A história falta em fôlego, drama e complexidade, e sobra demais em cenas desnecessárias, e a maioria são as de cantoria.


O final pode indicar algo para quem gosta de teorizar, ou foi uma virgula no meio do amontoado de ideias. É provável que tenha sido a cena que mais me agradou no filme, e talvez tenha sido porque os letreiros subiram indicando o fim desse delírio.


Indico que assista em salas IMAX para que a experiência fique um pouco mais aprazível, se puder, claro. Também peço para que você assista ao filme. Não fique preso a críticas, inclusive a essa, sobre o que pode ser ou não. Tenha a sua própria opinião, isso é mais importante.


Veredito: 2/5


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