"Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes" cumpre um bom papel nos cinemas
Atualizado: 30 de mai. de 2023
Adaptação do consagrado RPG agrada com agilidade e boa produção
Você já quis ser um cavaleiro? Ou quem sabe um feiticeiro? Uma donzela, talvez? Desde a infância, representar papéis é algo que fazemos, seja de brincadeira, seja sem nem perceber. Aos poucos, os humanos desenvolveram formas mais e mais criativas de fazer isso.
Publicado em 1974 pela primeira vez, Dungeons & Dragons ajudou a redefinir a produção dos RPGs, jogos de interpretação de papéis, popularizando o formato no mundo inteiro.
Milhões de pessoas jogaram seus dados ao redor do globo, embarcando em aventuras imersivas como se suas vidas dependessem disso. No caminho, assumem novas identidades, seja por trás de elmos ou com poções em mãos.
Quase 50 anos depois, após novas edições, desenhos animados e filmes fracassados, a saga chega mais uma vez ao cinema com “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes”, dirigida pela dupla Jonathan Goldstein e John Francis Daley (“A Noite do Jogo”), que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13).
Rolam-se os dados
Na produção de elenco estelar, o bardo Edgin (Chris Pine) e a guerreira Holga (Michelle Rodriguez) embarcam em uma missão para roubar um cofre recheado de riquezas e resgatar Kira (Chloe Coleman), filha de Edgin, que está sob a guarda do lorde Forge (Hugh Grant), que os traiu no passado.
Para conseguir realizar a tarefa, a dupla reúne uma equipe formada pelo feiticeiro Simon (Justice Smith) e pela druida Doric (Sophia Lillis), esbarrando também no caminho com o cavaleiro Xenk (Regé-Jean Page).
A verdade é que o novo filme abraça o conceito do jogo que o originou ao focar em um conceito tão vital de D&D: a complexidade de assumir papéis.
No RPGs, os jogadores encarnam papéis de tipos variados, como magos e bardos, com diferentes habilidades e poderes, e cuja trajetória é influenciada pelas suas decisões e pela sorte.
Na trama, os personagens se vêem divididos em meio ao que eles são, o que eles acham que são, e o que deveriam ser. É o caso de Simon, que vem de uma dinastia de feiticeiros poderosos, mas cuja baixa autoestima atrapalha seu desenvolvimento.
Todo esse questionamento sobre escolhas e papéis a se assumir também está presente nas trajetórias de outros personagens.
Holga, por exemplo, se tornou amarga por ter sido abandonada por seu povo ao se apaixonar por um forasteiro e viu seu relacionamento com ele ruir, por não conseguir superar o abandono.
O caso mais explícito - e melhor desenvolvido - é o de Edgin, cuja divisão emocional entre honra e ganância lhe rendeu consequências devastadoras.
Foram as escolhas dos personagens, o peso colocado neles e o acaso dos dados da sorte que os levaram aonde estão, em um universo no qual, assim como nosso, abrir a porta de um caminho significa dar adeus a outros.
Peças e dados a postos no tabuleiro
Mesno que tenha feito (e ainda faça) sucesso, em determinados territórios como o Brasil D&D acabou se tornando algo “nichado” da cultura nerd.
O filme faz um bom trabalho de introduzir o universo fantástico a uma audiência mais geral, incluindo quem nunca teve contato com RPGs, ainda que algumas referências geográficas e históricas possam soar nebulosas para quem não possui familiaridade.
O elenco principal possui uma sintonia boa, tanto individualmente com seus respectivos papéis, quanto entre si, mesmo que os personagens acabem não indo muito além de sua caracterização inicial.
Quando se fala em atuação, Hugh Grant é o maior destaque do longa, ao construir um vilão hilário e extremamente carismático. Está muito claro a imensa diversão que ele teve nesse papel.
Michelle Rodriguez também vai bem, mas em um personagem extremamente confortável e relativamente semelhante a vários papéis de sua carreira.
Regé-Jean Page, por sua vez, possui um papel menor que o esperado, mas, assim como resto do elenco, tem um bom desempenho
Em sua duração de 2h14, o filme não se torna cansativo em momento algum, com um andamento bastante dinâmico. Talvez o único problema seja sua porção final, em especial a resolução do último conflito, que soa um tanto corrida.
"Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes" é uma produção permeada tanto de comédia quanto de sentimentalidade. O modo como esses dois elementos são empregados no longa é satisfatório, mas nunca extraordinário.
O humor é inteligente, apesar de algumas das piadas mais espertas terem sido expostas já nos materiais promocionais. Além disso, a conexão emocional dos protagonistas como "família formada pelo destino e não só pelo sangue" é crível e funciona bem, especialmente em relação a Edgin, Holga e Kira.
A grande jogada
Talvez um dos maiores destaques de “Dungeons & Dragons” esteja mesmo em sua produção. Na grande maioria do longa, o uso de CGI é excelente e não cai nos excessos que prejudicam tanto algumas produções de grande orçamento.
E palmas também para a direção de Jonathan Goldstein e John Francis Daley, responsáveis pelos pontos altos do longa. Com um trabalho satisfatório em todas as cenas, a direção da dupla brilhou ainda mais em determinadas sequências, que utilizaram enquadramentos inspirados em videogames e RPGs.
Isso gerou momentos imersivos, nos quais o espectador realmente vive o que está acontecendo na tela junto com os personagens, estejam eles sendo arremessados através de um telhado ou fugindo de um dragão. Essa última sequência citada, inclusive, traz todo o feeling de um game para o cinema.
Com momentos como esse, o filme se eleva além da mesmice, manifestando uma identidade própria na forma de contar a história.
Fim de jogo
"Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes" é uma diversão bem-vinda e bem produzida, acessível para um público que vai muito além dos jogadores de RPG.
Com aspectos técnicos e uma história interessante, o longa consegue capturar o espectador, ainda que, no fim, não o arrebate como poderia.
O filme cumpre a função de entreter e de nos colocar nos papéis dos personagens. Ao fim da sessão, deu para perceber que podemos ser um pouco cavaleiros, feiticeiros e donzelas também.
Veredito: 4/5
Jogada extra 1: Talvez fosse interessante batizar o filme no Brasil de "Caverna do Dragão", mesmo que não siga a história do desenho animado. Isso poderia criar mais familiaridade com o espectador.
Jogada extra 2: Falando no desenho, o longa guarda uma certa surpresa relacionada a ele. Vale conferir!
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