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Olivia Rodrigo explora as diferentes faces de um coração partido em “SOUR”

Atualizado: 30 de mai. de 2023

por Humberto Cassimiro, especial para a TAG Revista


Jovem, talentosa, sentimental. Esses são alguns dos adjetivos que descrevem bem a compositora, cantora e atriz estadunidense Olivia Rodrigo. Protagonizando o mockumentário do Disney+ High School Musical: A Série: O Musical desde 2019, a jovem, além de dar vida a Nini Salazar-Roberts, uma adolescente interessada em artes cênicas e música — quase como um déjà vu da própria vida de Olivia numa personagem — também escreveu canções para a trilha sonora original da série. Uma dessas músicas é “All I Want”, cujo sucesso viral no TikTok a levou a buscar um contrato de gravação solo no início de 2020. Como resultado, a cantora assinou com a gravadora Interscope/Geffen, por onde lançou o seu álbum de estreia, “SOUR”, na última sexta-feira, 21.


Com apenas 18 anos de idade, pode-se dizer que a voz de “drivers license” não imaginava o sucesso que faria com suas próprias composições, em especial com a sua música de estreia. Para se ter uma ideia, “drivers license” estreou no topo das paradas estadunidense e britânica. Além disso, a canção definiu o tom de mágoa e ressentimento que acompanhariam os singles seguintes de “SOUR”, seu primeiro projeto solo. Apesar de não se encaixar exatamente em apenas um gênero musical, o disco, cuja produção é assinada por Dan Nigro em sua maior parte, concentra sua temática nas inseguranças de uma adolescente. Para ser mais exato, nas vulnerabilidades vividas após um término de relacionamento. Mas é justamente o tema recorrente dessas canções, que exploram essa relação finada (e, devo dizer, que envolve bastante especulação e rumores), que ajudam a construir o cenário “ácido” idealizado pela artista em sua estreia.


"SOUR"

Inicialmente concebido como um EP, conjunto mais breve de canções, “SOUR”, que em inglês significa “azedo”, foi escrito quase que inteiramente apenas por Olivia e pelo produtor Dan Nigro. Flutuando entre o bedroom pop, pop-rock e até mesmo o folk, o disco mescla as diversas influências presentes na vida da cantora. A canção “brutal”, é exemplo claro dessa dinâmica, ao abrir o álbum com a harmonia de violinos e violas, logo rasgados pela honestidade e crueza proporcionada pela escrita da jovem sobre suas próprias vulnerabilidades. “Eu sou tão insegura, eu acho / Que vou morrer antes de beber”, declara nos primeiros versos, acompanhada de acordes de guitarra tão repetitivos quanto cativantes. Logo de cara o conteúdo lírico de “brutal” traz à tona os sentimentos de ansiedade tão presentes na nova juventude, da qual Olivia faz parte, e que foram impulsionados ainda mais pelo momento de distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19.


Mas é quando a poeira finalmente baixa nos últimos segundos de “brutal” que se cria a atmosfera definitiva da maior parte do álbum: baladas com letras poderosas, a entrega emocional da intérprete e instrumentais meticulosamente arranjados. Na faixa “traitor” conduzida por violão e vocais harmonizando ao longo dos versos, fica perceptível a dor de um coração partido em cada linha da música, como quando canta no refrão: “Te amei no seu pior, mas isso não importou”.


A interpretação de Olivia Rodrigo também é destaque mais adiante no álbum, em “happier”, outra balada, dessa vez guiada por piano. A canção, cuja melodia inicial lembra em parte a clássica música francesa “La Vie en Rose”, de Edith Piaf, revela o desejo de que o seu ex-namorado esteja feliz no novo relacionamento, mas não melhor do que quando esteve com ela. Curiosamente, “happier” foi uma das primeiras composições do disco e o motivo pelo qual a artista juntou-se a Dan Nigro para a produção e composição do álbum.


Mas é com uma letra incisiva e tom de voz revoltado que Olivia 'celebra' sarcasticamente o bem estar de seu ex-namorado em “good 4 u”,

terceiro single do projeto. Marcada pela forte presença do baixo e da guitarra nos versos e refrão, respectivamente, e um ritmo rápido entre as palavras, a semelhança da faixa com o sucesso de Paramore “Misery Business”, de 2007, foi logo apontada pelos fãs, o que rendeu inclusive um mashup entre as duas canções.


Praticamente uma antítese sonora a “drivers license” e as demais baladas do disco, a música funciona como um respiro em meio ao sofrimento no tom da artista em grande parte do álbum. É nesse momento em que a compositora permite experimentar a raiva e o sarcasmo como mecanismos de enfrentamento na sua música.


Já em “deja vu”, quinta faixa do álbum, Olivia provoca seu antigo amor ao sugerir que os rituais do novo casal causariam a sensação que dá nome ao segundo single de “SOUR”. “Ela pensa que isso é especial, mas é tudo reusado”, se indigna, descontente. O que é interessante de se perceber é a capacidade da composição criar uma imagem mental bastante forte, em que a narração quase cinematográfica nos coloca na posição da artista, e os instrumentais criam uma atmosfera psicodélica digna de uma experiência como um déjà vu. Pode-se afirmar que dificilmente uma faixa tão pouco comercial sonoramente como essa seria um sucesso. Ainda assim, a canção ocupou o top 10 da parada musical da Billboard, a Hot 100. Mas igualmente difícil seria qualquer outra gravação do álbum complementar a narrativa de “drivers license” tão naturalmente. Enquanto que no carro-chefe do disco existe um tom de pesar, de perda recente, em “deja vu” impera um sentimento de indignação, mas ao mesmo tempo de nostalgia.


Mais do que isso: a faixa serve à função de vitrine do que se poderia esperar do projeto de Olivia, sendo um amontoado de suas referências e principais influências artísticas. Exemplo claro disso são os primeiros segundos de “deja vu”, que certamente poderiam ter saído de uma canção do álbum “Pure Heroine”, da cantora neozelandesa Lorde. A mudança de melodia na ponte da canção, por sua vez, traz à memória as composições mais pop à la Taylor Swift, sua ídola assumida, a exemplo de “Cruel Summer”. O estilo de escrita de Swift, inclusive, é grande referência no trabalho de Olivia. A canção “1 step forward, 3 steps back”, composta por Rodrigo e Nigro e que interpola sonoramente a canção “New Year’s Day”, de Taylor, é apenas uma amostra disso.


A influência folk em “enough for you”, e do rock alternativo em “jealousy, jealousy” também são pontos de destaque no disco de estreia da californiana. A primeira, que inclusive já recebeu sua primeira performance exclusiva no YouTube, trata das inseguranças de Olivia no relacionamento, como canta nos primeiros versos: “Eu usava maquiagem quando namorávamos / Porque achei que você gostaria mais de mim”.


Embalada apenas por um violão acústico, a canção progride liricamente com a mudança de postura de Rodrigo, que espera se ver num relacionamento melhor que o que teve anteriormente: “Porque algum dia eu serei tudo para alguma outra pessoa”. Em contrapartida, “jealousy, jealousy” é apresentada quase como um momento de descontração, apesar da letra crítica ao reforço de padrões pelas redes sociais. Claramente inspirada na sonoridade das gravações de Fiona Apple, a canção brilha dentro do álbum com a forte linha do baixo e a melodia caótica do piano.


Semelhante à “enough for you” na mudança de perspectiva, a faixa “favorite crime” reflete na intensidade de sentimentos vividos por uma jovem apaixonada, que posteriormente questiona seu próprio comportamento ao se manter num relacionamento fadado ao fracasso. “Porque eu estava caindo, mas estava fazendo isso com você”, lamenta na ponte da música, cuja produção investe novamente no violão. Da mesma forma que abriu o álbum, a cantora traz uma narrativa completamente diferente do restante do trabalho em “hope ur ok”, faixa final do projeto. Explorando as memórias de infância da jovem artista e de seus amigos, a música atravessa histórias de dor envolvendo a relação de alguns conhecidos e suas famílias. Mas, apesar de destoar liricamente de boa parte do álbum, “hope ur ok” não escapa da sensibilidade presente nas demais faixas.


Embora o tema recorrente de “SOUR” soe batido e exaustivo para algumas pessoas, é inegável o talento de Olivia Rodrigo como compositora estreante na indústria musical. O fato de ainda ser uma adolescente e naturalmente inexperiente em vários aspectos da vida proporciona à artista uma espécie de “licença para se emocionar”. Pode-se dizer que “SOUR” representa um momento em que a maturidade afetiva da vida adulta não impera, e a montanha-russa das paixões jovens é a única coisa a ser vivida, como bem lembra em “1 step forward, 3 steps back”. Pode ser que Olivia não se estabeleça como uma grande pop star como alguns desejam; mas o seu estilo swiftiano de composição, que nos imerge em cenários românticos, dolorosos, ou mesmo ácidos, ainda há de marcar o seu nome na música contemporânea. Uma coisa é mais que certa: sinais vermelhos e placas de “pare” dificilmente conseguirão arrancar de Olivia Rodrigo o seu desejo de contar histórias entre simples acordes de violão, ou em meio à beleza de guitarras e sintetizadores.


Veredito: 4,5/5

Escute o álbum "SOUR", de Olivia Rodrigo:


 


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