top of page
Foto do escritorBianca Dias

"Belo Desastre": romance sem peso na consciência

Atualizado: 30 de mai. de 2023

Livro de 2011 com legião de fãs ganha adaptação renovada para nova geração


Virginia Gardner e Dylan Sprouse protagonizam adaptação de "Belo Desastre" | Foto: Divulgação

Garoto conhece garota. Eles vivem em polos opostos e despertam o melhor e o pior do outro. Ele tenta conquistá-la e ela vive tentando provar que não sente nada por ele, quando, no fim, ela sente até demais. Nessa grande história de amor, nem os obstáculos ou as brigas gato-rato conseguem impedi-los de ficar juntos - afinal, o destino fala mais alto e eles são para ser.


O enredo acima já foi foco de milhares de produções cinematográficas e volta a ganhar destaque no filme "Belo Desastre".


O longa é baseado no bestseller de mesmo título lançado pela autora Jamie McGuire em 2011. Este ano, a obra ganhou uma adaptação nas telas de cinema para a felicidade - ou não - de sua legião de fãs.


O relacionamento de Abby e Travis


‘Belo Desastre’ conta a história de Abby Abernathy (Virginia Gardner), uma garota gentil e esforçada que se muda com sua melhor amiga America para cursar a faculdade. O que muitos não sabem é que dentro dessa menina ingênua, há alguém em busca de um recomeço para se afastar da antiga vida como jogadora de Pôquer .


Ela não contava, no entanto, que conheceria Travis Maddox (Dylan Sprouse), um garoto atraente que costuma conseguir todas as garotas que deseja.


Esse verdadeiro bad boy vive a vida ganhando dinheiro em um clube de luta. Em uma das ocasiões que está lutando, ele é apresentado para Abby e fica interessado nela.


Os dois, que superficialmente parecem ser o oposto um do outro, passam a viver uma relação conturbada recheada de apostas, desejos, ciúmes e amor.


Ao longo de sua história, Abby precisa achar uma forma de conciliar seu novo relacionamento e as complicações do seu passado sombrio, pois esse parece colocar em risco a sua vida e as daqueles que a amam.


Livro x Filme


"Belo Desastre" inicia sua adaptação com um grande desafio: fazer jus ao livro, agradando os antigos fãs, porém tentando conquistar um novo público.


A missão se trata de um grande paradoxo, uma vez que a história de Abby e Travis contada nas páginas não é vista positivamente pelos jovens da atualidade.


O livro é baseado em um relacionamento com traços abusivos nos dois lados. No entanto, como aconteceu em tantas outras obras da época, as posturas dos personagens eram romantizadas pelo bem do desejado romance.


Numa interpretação maquiavélica, pode-se dizer que os fins costumavam justificar os meios - já que crises de ciúme, sentimento de posse e violência eram esquecidos quando se falava de “amor verdadeiro”.


Fiel ao livro?


Colocando esse desafio em mente, o diretor Roger Krumble foi fazer seu trabalho e a melhor forma encontrada por ele foi mudar a atmosfera da história.


Antes de Abby e Travis, o profissional trabalhou com o casal Tessa e Hardin na franquia "After". Quem leu as duas obras consegue enxergar semelhanças na problematização dos relacionamentos.


Em "After", Krumble optou por cortar os momentos mais julgados pelos leitores, porém ainda trabalhou com a pauta abusiva no enredo dramático que envolve o casal protagonista.


Já em "Belo Desastre", as problemáticas parecem ser esquecidas na adaptação cinematográfica a fim de criar uma comédia romântica sem chance de julgamentos.


Porém, ao mudar algo tão pertinente no enredo, aquilo que atraiu tanto os antigos leitores foi colocado em risco.


O homem dos sonhos


Apesar de Abby ter posicionamentos controversos, quem garante a maior dose de toxicidade no livro é Travis.


Inúmeras cenas o colocam como a figura clichê de macho alfa, com dificuldades em expor seus reais sentimentos, que não gosta de ter seu território invadido e que vê a violência como a melhor saída para situações de ciúmes e insegurança.


No cinema, entretanto, o lutador ganha uma nova faceta e se torna o melhor dos dois mundos para o público que o deseja. Em "Belo Desastre" versão 2023, o verdadeiro bad boy sensível tem nome e se chama Travis Maddox.


Dylan Sprouse como Travis Maddox | Foto: Divulgação

A problemática sou eu


Como a figura de Travis é tão amenizada na adaptação, parece que o lado problemático do casal pesa mais para Abby.


O seu defeito em querer resolver seus problemas sozinha e fugir das pessoas que ama como uma tentativa de protegê-las continua o mesmo. Mas ele parece maior ao lado de um homem idealizado como Travis, que só quer o melhor para sua garota.


Diferente do livro, no entanto, chama atenção no filme o fato que a protagonista não se divide em duas personalidades, mas parece se fundir nelas e criar uma nova persona.


Se ela já demonstrou ingenuidade, isso foi esquecido na adaptação. Abby Abernathy continua gente boa e esforçada, porém não tem medo de expor seus desejos sexuais e se colocar como símbolo de mulher empoderada ao garantir um full house numa mesa de Pôquer rodeada de homens.


Virginia Gardner como Abby Abernathy | Foto: Divulgação

Conquistando uma nova geração em detrimento de outra


Fica evidente que o verdadeiro objetivo da adaptação era utilizar uma história já conhecida e apresentá-la em uma nova versão para atrair um público renovado.


Diferente do "Belo Desastre" dos livros, o título não faz referência à carga dramática que envolveu os leitores. Na verdade, o maior foco é um relacionamento de amor e ódio mais desastroso pelo seu lado cômico do que por sua toxicidade.


No novo formato, os fãs podem ter dificuldade em enxergar o enredo que o fizeram se envolver. Cenas foram cortadas, realocadas, e, em muitos momentos, ganharam novas interpretações na linha do tempo do casal.


Essas mudanças, no entanto, levaram uma atmosfera leve desconhecida no relacionamento de Abby e Travis, que sempre pareceram tão imersos ao sentimento de posse nas páginas.


Por fim, os dois realmente foram modificados fisicamente e psicologicamente. Porém isso foi feito para se aproximarem do que é visto como correto pelos jovens da atualidade. É uma versão que continua romantizada, claro, porém que não resulta em peso de consciência naqueles que a consomem.


Foto: Divulgação

Aos leitores de "Belo Desastre" que forem conferir a adaptação, é recomendado não ir com expectativas altas para uma homenagem fidedigna à história adorada por anos.


Entretanto, novos espectadores podem ir abertos a consumir uma nova comédia romântica com clichês queridos há tanto tempo protagonizados por um verdadeiro casal da Geração Z.


Veredito: 3,5/5



59 visualizações0 comentário

Comments


Últimos textos

bottom of page