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Foto do escritorMikhaela Araújo

"Divertida Mente 2" é uma viagem imersiva na nossa própria mente ansiosa

Novo filme da Pixar acerta na abordagem lúdica de emoções complexas


O primeiro contato com a ansiedade da qual me recordo ter aconteceu quando eu tinha uns 12 para 13 anos. Eu estava na escola, entre uma aula e outra e era período de provas. De repente, comecei a ficar sem ar e o meu coração batia rápido demais. Fui parar no hospital. Meus pais, preocupados, acharam que se tratava de um problema cardíaco. Fiz alguns exames e veio o resultado: fisicamente, tudo normal. Mentalmente? Nem tanto. Eu tinha tido, segundo o médico, uma crise de ansiedade.


Conhecida por muitos, é essa Ansiedade a temática principal do novo filme da Disney Pixar, Divertida Mente 2. Continuação do filme de 2015, o longa de animação estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20) e já vem arrancando elogios mundialmente, além de estar atingindo recordes de bilheteria.


Nesta sequência, Riley, a personagem principal, é uma adolescente. Após completar 13 anos, um botão vermelho e assustador surge na sala de controle das suas emoções. O nome dele é "puberdade" e seu aparecimento arranca uma das primeiras risadas do filme. Com a chegada da temida puberdade, a sala de controle é completamente destruída e todas as emoções já conhecidas - Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho - ficam desesperadas e desestabilizadas. Como se não bastasse, a cabecinha de Riley precisa lidar com várias emoções novas, que são parte dos novos personagens a quem o público é apresentado. São elas: o Tédio, a Vergonha, a Inveja e a Ansiedade.


Se no primeiro filme eles precisam aprender a conviver com a Tristeza e entender que ela também é importante, aqui, o desafio é multiplicado em várias vezes. As novas emoções são ainda mais difíceis de lidar e a Ansiedade é um furacão complicado de ser controlado.



Por conta da desestabilização mental, a Ansiedade, uma personagem divertida e interessante apesar da loucura, consegue encontrar várias brechas para assumir a liderança da cabeça de Riley. Ao crescer, a menina foi desenvolvendo um senso de si, que é extremamente importante para sua tomada de decisões, principalmente no momento que ela se encontra: ela consegue a oportunidade de treinar no time de rugby do ensino médio da escola. Esse evento na vida dela implica em novas interações sociais e novos desafios em todos os sentidos, mas tudo fica ainda mais difícil com a Ansiedade girando igual ao Taz Mania na seu sistema nervoso.


Divertida Mente 2 consegue abordar todos esses processos inerentes à qualquer adolescente de uma forma meio genial, assim como faz no primeiro longa. A dinâmica entre o novo grupo de emoções e o antigo é engraçada e (literalmente) divertida de assistir. Inclusive, falando em humor, esse é um dos pontos mais fortes do filme. O timing das piadas e o teor afiado da comédia está perfeito, arrancando desde risadas altas até as mais discretas (o famoso "soltar arzinho do nariz").


A história e a animação estão amadurecidas em vários pontos, acompanhando a personagem e também o público. Referências e elementos conhecidos pela Geração Z e Alpha estão espalhados pelo filme e a experiência é bem imersiva, algo que é ajudado pelos visuais da animação.


Fica evidente aqui as evoluções que o estúdio conseguiu fazer na técnica usada para animar, com vários focos em detalhes minuciosos e utilização de recursos dinâmicos para tornar a estética mais original e também funcional. O universo da mente de Riley, que já é enorme no primeiro filme, é expandido. As novas personagens humanas introduzidas são fisicamente bem diferentes entre si, o que traz um frescor para os olhos e, para além disso, facilita na identificação do espectador.


As situações vividas pela protagonista, assim como no primeiro, são muito parecidas com vivências comuns de qualquer adolescente. Mas, considerando nosso cenário atual, é sintomático que um filme sobre ansiedade na juventude esteja fazendo tanto barulho. Óbvio que vai fazer, principalmente sendo bem trabalhado. Vivemos numa sociedade cada vez mais ansiosa com o avanço da tecnologia e aumento da velocidade das informações. Se eu, uma adulta com 25 anos de idade, me identifiquei, imagine uma adolescente de 13, 14 anos que já nasceu na era da internet e, provavelmente, usa telas desde cedo?



A forma como a Ansiedade lida com o senso de si de Riley em Divertida Mente 2 é interessantíssima e até didática. Infelizmente, quando aconteceu comigo a crise que conto no início deste texto, eu não fazia ideia de como funcionava essa emoção - que, no meu caso, evoluiu para um transtorno -, tornando bem mais desafiador lidar com ela. No filme, os eventos que se sucedem explicam como a ansiedade age na nossa mente e o por quê dela agir assim de forma lúdica.


As emoções novas, mesmo consideradas "negativas", são personagens carismáticos e cativantes. Riley também aparece mais aqui e, com a identificação gerada, você fica ainda mais envolvido. Isso surte bastante efeito na hora de que o filme quer que você se emocione. Nem tudo são risadas, afinal.


É aqui que mora um outro ponto forte: o drama. A parte emocional de Divertida Mente foi um dos maiores destaques do original e aqui acontece novamente. É quase impossível não chorar quando a sequência final se aproxima. Quando você se dá conta, lágrimas estão caindo do seu rosto e você nem entende direito o motivo. Emoções, não é mesmo? Uma grande viagem.


Mesmo com alguns pontos imperfeitos, como a repetição de recursos narrativos ao longo do filme, Divertida Mente 2 é um belíssimo gol da Disney Pixar, que estava batendo na trave há algum tempo. Um respiro para o estúdio - e merecido. É uma animação que consegue envolver, emocionar e divertir, além de tratar com cuidado sobre um tema tão delicado e cada vez mais presente. Muito acertada a decisão da sequência só sair quase uma década depois desde o primeiro longa, sem pressa, porque histórias bem desenvolvidas precisam de tempo. Que cheiro é esse de indicação ao próximo Oscar de Animação?


P.S.: Dá até vontade de ver se Riley vai se tornar uma adulta que precisa de um ansiolítico e como seria a chegada dele na sala de controle das emoções.


Veredito: 4,8/5



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