#FREEBRITNEY: Liberdade para a princesa do pop
Atualizado: 30 de mai. de 2023
No dia 20 de fevereiro de 2007, o mundo assistia a uma das situações mais caóticas protagonizadas pela princesa do pop, Britney Spears. Ela ataca o carro de um dos paparazzis que a seguia com um guarda-chuva e vira capa de milhares de tabloides. Antes disso, seu nome sempre foi atrelado a polêmicas, as quais continuam gerando consequências na vida da artista até hoje. O movimento #FreeBritney, formado pelos seus fãs e figuras famosas da indústria, cresceu nos últimos anos e tem como objetivo ajudar Britney a ter sua liberdade, uma vez que ela atualmente não comanda suas finanças e precisa de permissão de seu tutor legal, o pai Jamie Spears, para qualquer decisão. Nessa linha do tempo, entenda por que isso aconteceu e como a famosa cantora foi do estrelado até o fim da liberdade individual aos 39 anos.
1999 - 2002
A origem da vida polêmica de Britney Spears está na formação da sua carreira e na imagem que a indústria da música construiu acerca dela. A garota inocente da pequena cidade de Kentwood, Louisiana, cresceu indo todos os domingos à Igreja e com o desejo de ser cantora. Os seus pais, Jamie e Lynne Spears, apoiavam a carreira da filha e a levaram à Nova Iorque para audições. Seu primeiro trabalho foi no Mickey Mouse Club, quando Britney enxergou que ali morava sua paixão: entreter um público. Porém, quando o contrato com o programa acabou, ela voltou à sua cidade natal e viveu a vida de uma adolescente normal estadunidense. O desejo de evoluir na sua carreira ainda persistia, porém seus pais precisavam cuidar de sua irmã mais nova, Jamie Lynn, então Lynne contratou uma assistente, Felicia Culotta, para levar Britney a audições. Felicia virou o braço direito da jovem e a acompanhou nas suas primeiras gravações, presenças em eventos e shows em shoppings, que fizeram estourar seu primeiro álbum, Baby One More Time, em 1999.
Britney tornou-se o rosto da garota americana perfeita. Ela era jovem, passava um ar inocente com sua voz fina e rosto angelical, mas comandava sua carreira e entoava músicas e coreografias que tinham um alto teor sexual. Em entrevistas e matérias de revistas, sua virgindade era frequentemente questionada e o interesse na sua vida amorosa era intenso. No mesmo ano que seu álbum estourou, seu namoro com Justin Timberlake veio à tona e eles viraram o casal queridinho do mundo dos famosos.
Acontece que, com o fim do relacionamento, em 2002, uma das primeiras polêmicas acerca de Britney foi levantada: a de que ela era a responsável pelo rompimento, por ter traído Justin. A mídia caiu em cima da cantora, afinal se tratava da “princesa do pop” inocente. Como sempre, a culpa foi para a figura feminina, ainda mais aquela que parece ser dona de si. Obviamente o agora ex-namorado confirmou os rumores e ainda pegou carona na história, ao promover o clipe do seu primeiro single de sucesso na carreira solo, Cry Me a River, retratando seu namoro com Britney e colocando uma sósia da cantora no videoclipe.
Veja o clipe
2004 - 2006
Mesmo cercada de olhares, a cantora continuou trabalhando e crescendo seu número de fãs. Em 2004, mais uma história de Britney Spears gerou discussões: o seu casamento. Ela conheceu o noivo, Kevin Federline, 5 meses antes do matrimônio, e mesmo com todos questionando a veracidade da relação, o seu primeiro filho, Sean, nasceu, após 1 ano de casados e, em 2006, ela deu à luz ao seu segundo: Jayden.
Claro que Britney tornando-se mãe também virou tópico dos veículos de fofoca. Algumas situações específicas, como ela flagrada dirigindo com o seu bebê no colo; ou quando tropeçou com um bebê no colo, fazendo quase os dois caírem, despertaram a opinião alheia sobre ela ser ou não uma boa mãe. Ao mesmo tempo, o casamento não parecia um dos melhores, e em 2006 ela pediu divórcio. Esse foi o período em que ela entrou na sua fase mais festeira e ficou rodeada de álcool, drogas e de companhias polêmicas, como Paris Hilton e Lindsay Lohan.
Enquanto isso, o processo judicial da guarda integral dos filhos tanto para Britney quanto para Kevin continuava, e o ex-marido utilizava as notícias sobre as festas frequentadas pela artista a seu favor. A decisão feita pela justiça o favoreceu e desequilibrou Britney. Foi quando ela entrou na sua fase mais obscura: o ano de 2007.
2007
No dia 16 de fevereiro daquele ano, a estrela foi flagrada raspando a própria cabeça, como uma representação da confusão que andava a sua vida pessoal. No dia 20 do mesmo mês, ela foi à casa de Kevin ver seus filhos, porém ele proibiu a visitação. Esse dia ficou marcado quando Britney atacou com um guarda-chuva os paparazzis, que acompanhavam com suas câmeras todo drama que ela passava. Por causa de tudo que acontecia, o ex-marido combinou com ela que tiraria o pedido da guarda integral caso a cantora fosse internada numa clínica de reabilitação. Spears então o fez, porém, ao receber alta após um mês, ela começou a se envolver com uma das piores figuras do ramo das celebridades: Sam Lutfi.
O produtor cinematográfico é conhecido por ser um grande oportunista e tornou-se uma espécie de guru, dando conselhos duvidosos à Britney e passando a controlar totalmente sua carreira. A mãe dela, Lynne, afirma em seu livro, o Through the Storm: A Real Story of Fame and Family in a Tabloid World, que Sam chegou a drogar a sua filha e convidar paparazzis para dentro de sua casa. Na mesma época, Britney lançava seu álbum icônico “Blackout” e fazia uma performance no VMA (Video Music Awards) com uma feição completamente fora de si. Em janeiro de 2008, a cantora é mais uma vez hospitalizada, agora por intervenção dos pais e garante ali uma ordem de restrição contra Sam Lufti. É nesta altura que a vida dela vira ao avesso: o seu pai, Jamie Spears, consegue abrir um processo de tutela, onde ele se torna a pessoa responsável pelas finanças da filha e pelas decisões de ir e vir dela.
Assista à performance
Tutela do pai
A partir do momento em que Jamie vira seu tutor, parece que a trajetória de sucesso de Britney Spears volta aos trilhos. Ela consegue o direito de visitação aos filhos e lança os álbuns Circus (2009), Femme Fatale (2011), Britney Jean (2013) e Glory (2016). Além disso, foi jurada do The X Factor USA em 2012, lançou seus perfumes e ainda participou de diversas entrevistas em famosos talk shows. Um dos destaques dessa sua boa fase está atrelada à sua volta aos palcos e ainda sua temporada de shows em Las Vegas, que ganhou o prêmio de melhor residência do lugar em 2015 e 2017. Por não estar mais se envolvendo em polêmicas e seguindo sua vida tranquilamente, o seu processo de tutela passa a ser revisado em março de 2018 como uma tentativa de Britney recuperar sua liberdade.
Até que, de repente, em novembro daquele ano, a cantora cancelou sua segunda residência em Las Vegas, a Domination, que nunca chegou a acontecer, alegando querer focar na sua vida pessoal e estar mais perto do seu pai, que sofria de problemas de saúde na época. Logo após isso, o advogado de Jamie e co-tutor de Britney, pede um aumento no seu salário e uma semana após a confirmação do pedido, ele pede demissão. Tudo isso pareceu muito estranho e começou a chamar a atenção dos Britfans - os fãs da cantora.
Quem é familiarizado com o processo de tutela, sabe que o tutelado normalmente é alguém idoso, incapaz mentalmente de tomar as próprias decisões. Sabendo desse ponto, as pessoas começaram a se questionar por que Britney precisaria continuar submetida a este contrato, uma vez que ela é uma mulher atualmente com 39 anos não diagnosticada com doença mental, que leva uma vida normal, com sua carreira de sucesso, namorado e filhos.
Outra ocasião que levanta mais suspeitas acontece quando a cantora é, mais uma vez, internada numa clínica de reabilitação, em 2019, agora por “espontânea vontade”. Ela tem alta na Páscoa e é flagrada ao lado do seu namorado, com uma aparência anormal. Com tantas dúvidas acerca da qualidade de vida da ídola, os fãs surgem com o movimento “Free Britney”, como um apoio para a liberdade judicial dela.
As pessoas realmente se juntaram e levaram a sério a sua pauta. Duas comediantes estadunidenses, Tess Barker e Barbara Gray, criaram o podcast Britney’s Gram para analisar os posts da cantora no Instagram, considerados pelos internautas como uma forma dela mandar mensagens codificadas aos seus seguidores pedindo ajuda. Os fãs também tiveram acesso a um áudio vazado de um suposto ex-advogado do processo de tutela. Segundo ele, todas as vezes que Brit foi internada teria sido contra a sua vontade. Além disso, um documento judicial de 2008 foi encontrado, onde Jamie afirma a filha precisar de um tutor por ela ser diagnosticada com demência; e também uma carta supostamente escrita pela própria Britney em 2009, que ela afirma querer que seja investigado o controle dos seus tutores, mas que não pode fazer nada por conta da ameaça de ser afastada dos seus filhos.
Por conta de toda polêmica envolvendo seu nome, Britney se pronunciou em abril de 2019 com um vídeo no Instagram, dizendo que está tudo bem e não é para seus seguidores acreditarem em tudo que leem. Claro que isso gera ainda mais suspeita para aqueles que acompanham sua situação. A história ganha ainda mais detalhes quando Kevin, o ex-marido, entra com um processo, em agosto, contra Jamie Spears, afirmando que ele agrediu o seu filho mais velho, Sean. O resultado no processo não saiu e na mesma época Jamie demanda uma audiência para a sua retirada do papel de tutor da filha, alegando problemas de saúde. No seu lugar, fica a tutora profissional, Jodi Montgomery.
2020
Em 2020, o processo movido por Britney é interrompido por conta da pandemia do Covid-19. Ao mesmo tempo, os fãs continuaram buscando por mais indícios de que a cantora não está em boas mãos. Os grandes destaques foram a live feita por Jayden, o filho mais novo, onde diz que deseja o avô morto; as diversas interpretações das postagens de Brit no Instagram; e a abertura de uma petição online para a Casa Branca intervir na ordem judicial em questão. A última atualização do caso acontece em novembro de 2020, quando Britney garante uma pequena vitória, ao assegurar que a empresa Bessemer Trust seria sua co-tutora, junto com a representante do seu pai.
É preciso dizer que este caso é muito triste. Levanta questões e motivos para chegar na situação em que Britney se encontra. É o conjunto de uma indústria misógina, capaz de sexualizar uma garota desde nova; é uma cultura de tabloides, que acompanha 24 horas por dia a vida de uma pessoa pública, deixando de lado sua privacidade; é um pai que olha a filha mais pelo dinheiro do que pelo sentimento; é uma mulher que cresceu cercada de todos esses gatilhos; e que, quando surta, é vista como louca. Ela é fruto de todos esses absurdos e agora sofre as consequências de algo impossível de ser controlado por uma só pessoa.
Felizmente, a cantora conta com os seus fãs e o movimento Free Britney. Eles acompanham todas as audiências e fazem crescer essa rede de apoio à cantora, tendo a presença de figuras como Miley Cyrus, Sarah Jessica Parker e Khloé Kardashian no suporte à causa.
Documentário
No dia 05 de fevereiro de 2021, a plataforma Hulu lançou o documentário Framing Britney Spears, resultado de uma investigação do New York Times acerca da carreira da cantora e o processo de tutela. O material conta com entrevistas de profissionais da área e pessoas que acompanharam de perto a vida da famosa, além de imagens e depoimentos dos grandes fãs representantes do Free Britney.
Esperamos, então, que toda essa visibilidade ajude Britney Spears a se livrar das amarras judiciais, uma vez que ela precisa de sua liberdade. O público com certeza está ansioso pela sua volta e sua essência de “put on-a-show kind of girl” (tipo de garota que faz um show, em português) como ela própria diz em Circus, seu single icônico.
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