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"Imaculada" não é nenhuma santa - e nem inocente

Sydney Sweeney se destaca como Irmã Cecília em novo filme de terror que é mais do mesmo


Atriz Sydney Sweeney usando um véu com expressão triste
Sydney Sweeney é irmã Cecília em 'Imaculada' | Foto: Reprodução/NEON

Quando se trata de filmes de terror, uma das figuras mais recorrentes nas produções sem dúvida é a da freira. Além de trazer como elemento principal a mulher e, por consequência, a feminilidade perante a igreja, os longas procuram 'brincar' com este símbolo santo de forma profana. Em Imaculada, novo filme de Michael Mohan (The Voyeurs) estrelado por Sydney Sweeney, o uso desse recurso não é diferente - ou, ao menos, inovador. 


O longa segue a jovem Cecília, que viaja até um convento na Itália para declamar seus votos e se tornar, de vez, uma freira. Logo no início da trama, o longa faz questão de mostrar que a fé da protagonista não é algo questionável, assim como sua decisão de se tornar a esposa do Senhor. Essa, inclusive, poderia ter sido uma oportunidade melhor abordada pelo roteiro e direção, já que foi de contra ao que geralmente é apresentado às moças que vivem esses papéis. 


O espectador é logo apresentado a uma Sydney Sweeney gentil e inocente perante falas e comportamentos de quem está a seu redor. Neste caso, a inocência funcionaria como um ótimo elemento para colocar a protagonista onde a premissa a quer: uma jovem que de nada sabe que não sua fé, à mercê completamente da igreja e seus poderes. 



Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações (Jeremias 1:5)

Atenção: spoilers à frente! 


Apesar do ambiente hostil, Cecília ainda tem certeza do que quer ser e de onde quer estar. A jovem proclama seus votos, cria relações no espaço e, em pouco tempo de filme, descobre que está grávida de forma aparentemente milagrosa. Ao público, pouco é revelado como esta criança foi concebida, já que a jovem nunca teve relações. A única certeza é que, surpreendentemente, esta é uma notícia muito bem recebida pelos superiores religiosos - mesmo com homens e mulheres extremamente conservadores. 


Atriz Sydney Sweeney com rosto ensanguentado em expressão de grito
'Imaculada' traz Sydney Sweeney no papel principal | Foto: Reprodução/NEON

Imaculada pode ser descrito como um filme de diversos "poderias". Em outras palavras, a direção e o roteiro tiveram diversas escolhas de como contar a história de Cecília e, na prova final, foram na letra C porque já haviam escolhido A e B demais. Ao longo do arco da gravidez, o que deveria intrigar o público por conta da sua origem parece algo facilmente deduzível, que não surpreende quando é revelada. 


Se me permito opinar ainda mais sobre os caminhos percorridos pelo longa, seria mais interessante acompanhar uma jovem freira grávida atormentada pela ideia de estar carregando, de fato, o próximo Jesus Cristo ou a dúvida de este ser um falso profeta. Afinal, já que estamos falando sobre fé e religião, a primeira opção é e sempre será o que a ciência não pode explicar. Neste cenário, a direção poderia apostar ainda mais em um ambiente assustador (algo que a Igreja Católica consegue construir com maestria sem muito esforço aparente). 


Foi pela culpa da mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos (Eclesiástico 25:33) 

Atriz Sydney Sweeney com diversas mãos em seu rosto representando agonia
Sydney Sweeney em uma das cenas de 'Imaculada' | Foto: Reprodução/NEON

Apesar de Sydney Sweeney ser uma das produtoras do filme, Imaculada carece quando se trata do olhar feminino sob as narrativas religiosas e o corpo da mulher. Ao longo do longa, é possível acompanhar algumas falas questionadoras sobre o patriarcado, mas nada a nível de "vamos galera, mulheres". Aqui, inclusive, vale pontuar que a questão sobre o uso do corpo de Cecília poderia ser ainda mais explorado pela narrativa. Em outras palavras, seria interessante ver de que maneira a história de Imaculada poderia reverberar sob um olhar de direção feminina, principalmente subvertendo elementos tão tradicionais como a igreja indo de encontro à ciência. 


O próprio corpo da Sydney, inclusive, vem sendo alvo de comentários dentro e fora das telas. Considerada um talento promissor desde Euphoria e, anteriormente, Everything Sucks, a atriz tem escolhido a dedo seus papéis e sua atuação é um dos destaques positivos deste novo longa de terror - se consagrando aqui como uma promissora scream queen caso invista no ramo do terror. Ainda assim, o filme não consegue se distanciar da imagem já conhecida de Sweeney como a 'moça bonita de olhos grandes' e outros atributos já comentados web afora. 



Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. (Mateus 24:24)

Imaculada não utiliza de novidades para compor sua narrativa, fazendo questão de sacrificar o mínimo de mistério envolvendo a sua trama e permanecendo na mesmice quando se trata dos símbolos católicos. O ato final do longa chega a ser um suspiro empolgado, mas bate de frente com um público já cansado do que acompanhou. 


O desfecho de Cecília é satisfatório - com o auge da performance de Sydney Sweeney nos minutos finais - e a escolha de manter o mistério sob o atual sucessor de Jesus também é acertada. Aqui, percebe-se que o filme ganha vantagem quando se mantém de maneira simples: desde uma trilha sonora menos escandalosa a closes mais fechados. 


Infelizmente, Imaculada se consagra como "mais um filme de freira" e deixa um gosto de "já vi esse filme antes", não sendo uma completa decepção, mas aquele filme de terror que assistimos ao longo do ano esperando a grande promessa chegar. 


Veredito: 2,5/5 


 

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