"Maníaco do Parque": true crime revela dura realidade brasileira
Atualizado: 25 de out.
Filme faz leitura feminina da história de um dos serial killers mais famosos do país
Em 1998, o Brasil se chocava com os crimes cometidos por Francisco de Assis Pereira, condenado a 280 anos por matar sete mulheres e tentar assassinar outras nove no Parque do Estado, em São Paulo. Cerca de 26 anos depois, os brasileiros revivem a história através do filme Maníaco do Parque, true crime que explora um dos assassinos mais famosos do país.
A produção de Mauricio Eça (A Menina que Matou os Pais) relata o caso real do maníaco (Silvero Pereira) enquanto cria uma ficção protagonizada por Elena (Giovanna Grigio), uma repórter iniciante que enxerga na investigação de Francisco a grande chance de alavancar sua carreira. Toda a trama é envolvida por cenários localizados na capital paulista e por elementos culturais da época que se passa, criando uma nostalgia naqueles que acompanharam a repercussão dos assassinatos ao vivo.
A atuação de Silvero conquista ao dar vida a alguém com personalidade aparentemente inofensiva, porém que ganha uma faceta asquerosa e psicopata capaz de cometer tantos atos brutais. O talento de Giovanna também não é deixado de lado, ao personificar todo o machismo estrutural no mercado de trabalho, as crises geradas pelo luto da perda de um parente próximo e a sede de justiça que só uma jornalista recém-formada ainda consegue cultivar.
Porém, com protagonistas tão complexos, os questionamentos e vivências vividas por eles parecem não ter sido totalmente explorados, ficando em um âmbito mais superficial e gerando uma vazio, que não fez o público entender realmente o porquê de ser quem são. Afinal, como foi a infância dessa pessoa que matou tantas pessoas e qual daddy issue essa repórter tem ao ponto de criar um hiperfoco no maníaco do parque? Faltou aprofundar.
Um adendo importante a se citar é sobre o puro ficcionalismo envolvendo o desvendamento da identidade do assassinato: a Elena é talentosa e perspicaz, porém ao ponto de solucionar o caso mais famoso do país? O longa até expõe um pouco da cobertura sensacionalista da imprensa e dos icônicos programas televisivos dos anos 90, entretanto não os coloca como auxiliares na captura de Francisco - apesar da completa falta de ética em todo o processo. Era possível, sim, mostrar a responsabilidade de cada componente do caso sem tirar todo o vislumbre e o "final feliz" da personagem.
É fato, muitas expectativas foram criadas antes de assistir ao filme que adapta um dos gêneros mais polêmicos da indústria, como também é conhecido o true crime. Para os fãs brasileiros, com certeza se sente uma aproximação e certa familiaridade ao acompanhar o roteiro, uma vez que são situações, medos e violências comuns à realidade do país e trazem uma reflexão sobre o real motivo de se adaptar trajetórias de assassinos. Seria para dar visibilidade ao criminoso ou para as injustiças enxergadas no contexto em que se encaixa?
A função de Maníaco do Parque, pelo menos, parece estar mais ligada à segunda opção e foi confirmada pelos atores que protagonizam o longa. Na première em Recife, a qual a TAG Revista teve a oportunidade de ir, pudemos entrevistar os atores principais que afirmaram a importância de contar histórias trágicas como essa, pois elas vão além das informações vagas e soltas e são capazes de fazer os telespectadores entenderem as circunstâncias que levaram ao crime, como a violência de gênero duramente vivida pelo público feminino.
Foi o cenário perigoso, preconceituoso e alarmante que fez Francisco Pereira se sentir confortável e poderoso como homem ao ponto de se achar no direito de atacar tantas mulheres. E, ao exibir isso, o longa não só alimenta a persona curiosa e investigativa de quem assiste, mas sua sensibilidade e senso crítico para lutar contra aquilo que facilita a atuação de criminosos.
Por fim, pode-se dizer que Maníaco do Parque é bom, mesmo tendo umas quedas de roteiro ali e acolá ao construir as narrativas. Ele consegue se destacar pelo ativismo a favor das vítimas, tendo uma voz feminina protagonista para combater o que o serial killer representa e nos fazendo questionar se, depois de tantos anos passados, a justiça está sendo feita e as mulheres se sentem protegidas. Levando em conta que Francisco Pereira, em 2028, deverá ser solto por cumprir a pena máxima de 30 anos de prisão, a realidade brasileira, infelizmente, ainda se assemelha bastante àquela da década de 90 e pode render muito material para futuros true crimes.
Veredito: 3/5
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