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Foto do escritorMikhaela Araújo

"MaXXXine", o encerramento decepcionante da trilogia de Ti West

Terceiro filme da trilogia do diretor não consegue alcançar seu potencial e se perde nas próprias referências


Trilogias de filmes são, com frequência, difíceis de terem três boas obras, que sejam coerentes entre si. Isso se aplica a vários gêneros cinematográficos. Ação, suspense, aventura, terror... não importa a história, é uma missão complicada contá-la em três ou mais partes sem que uma dessas partes seja prejudicada. Exemplos disso são os longas mais recentes da franquia Halloween; os Star Wars lançados por último; a trilogia original de Matrix. Os casos de sucesso praticamente absoluto são mais raros.


Infelizmente, a trilogia de terror de Ti West que iniciou com X - A Marca da Morte (2022) e se firmou com atuação de Mia Goth em Pearl (2022), conquistando um público grande e fiel, entra no rol de trilogias que não conseguem se sustentar completamente com MaXXXine (2024), terceiro longa, que estreia oficialmente no Brasil nesta quinta-feira (11).


Estrelado também pela neta da atriz brasileira Maria Gladys, MaXXXine dá continuidade à história de Maxine Minx (Mia Goth), que finalmente se torna uma estrela de Hollywood, como sempre sonhou ser. Após a tragédia ocorrida nos eventos que se sucedem no primeiro filme, X - A Marca da Morte, Maxine decide abandonar o mercado pornográfico para tentar um papel em um filme de terror. Porém, como nada para ela é tão simples, no momento mais importante para sua carreira estão ocorrendo assassinatos de atrizes e atores em Los Angeles, todos feitos por um serial killer, o Night Stalker, cuja identidade ninguém conhece. Perseguida pelo assassino, Maxine precisa encontrar um jeito de derrotá-lo para seguir seu estrelato da forma que planejou.


Já dá para ver, pelo plot, que MaXXXine não tem o enredo tão simples quanto seus antecessores — que funcionam justamente por conta dessa simplicidade. Aqui, essa concisão, presente em Pearl e X, é abandonada, substituída por uma trama mais complexa e um emaranhado de personagens — interpretados por grandes atores —, referências e recursos cinematográficos que travam o filme de alcançar seu potencial.


São várias tramas num só filme. Maxine precisa conseguir manter seu papel num filme de terror de uma franquia criada por uma renomada diretora, Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), que é conhecida por ser "difícil de lidar". Ao mesmo tempo, tenta gerenciar sua carreira com seu agente, Teddy Night (Giancarlo Esposito), que procura ajudá-la quando a jovem começa a ser perseguida por um investigador particular, Jon Lavat (Kevin Bacon). O plot principal, do assassino, chega a ser quase deixado de lado pela quantidade de coisas que a história precisa dar conta.


Isso porque não mencionei o background para tudo isso, que também afeta o filme. MaXXXine se passa na década de 1980 em Hollywood e um movimento de conservadores está numa crescente bizarra, com protestos espalhados por toda Los Angeles. Os fundamentalistas pedem boicote de Hollywood e outros setores artísticos porque, segundo eles, a indústria está incentivando princípios pecadores à juventude, o famoso trio sexo, drogas e rock ‘n’ roll.


É curioso que um filme que critique tão abertamente esse movimento conservador (que está de volta na década de 2020) seja tão puritano na forma que se constrói. É, inclusive, o mais recatado sexualmente de toda a trilogia. Apesar de termos visto cenas muito mais explícitas nos antecessores, em MaXXXine qualquer mínima aparição de um mero seio é censurada. Não quero dizer, obviamente, que o filme precisava ser explícito sexualmente para funcionar. Mas, é impossível não achar incoerente considerando a trilogia como um todo e até o background do filme, que não existam cenas filmadas de forma mais "livre".


Além do emaranhado de referências rasas a outros filmes, parecendo uma tentativa de replicar obras consagradas de forma pobre (como li uma vez essa semana no Twitter, "o triste é que Ti West acha que Giallo é slasher com luva de couro e luz vermelha"), MaXXXine parece estar o tempo inteiro se autoreferenciando, como numa cena que há uma situação com uma prótese, que sabemos que foi a ferramenta usada para transformar Mia Goth numa velha em X. O que você sente é que o hype gerado por Pearl e X 'subiu à cabeça' de West e transformou o terceiro filme numa salada com ingredientes em excesso. Não é por acaso que este foi gravado depois dos dois outros, que foram gravados praticamente ao mesmo tempo. O pós e a fama evidentemente afetaram o resultado da história.


Apesar da bagunça que torna até a cena final uma sequência fraca e sem impacto, é preciso dar os méritos às excelentes atuações da maior parte do elenco, com destaque imprescindível para Mia Goth. Definitivamente, ela É uma estrela e carrega praticamente sozinha o filme, apesar de ter seu potencial diminuído pelos problemas no enredo. O trabalho da atriz com a personagem Maxine a coloca automaticamente como final girl clássica do cinema de terror, mesmo para quem não é tão fã assim da trilogia.


MaXXXine é um encerramento “broxante” de uma história que tem dois filmes iniciais marcantes e bons, apesar de ser divertido em alguns pontos e ter uma fotografia interessante. Mas, não é divertido o suficiente para chegar a ser um Maligno (2021), por exemplo, que abraça os exageros e utiliza seus recursos narrativos de outra forma. MaXXXine não é um slasher, muito menos um whodunnit; não é um terror, não é sequer um suspense bem feito (uma das cenas com mais potencial de tensão do filme é resumida à uma referência vazia à Psicose e não instiga de forma alguma o espectador). Mesmo valendo a pena assistir, uma dica que eu gostaria de ter seguido seria: retire suas expectativas baseadas nos antecessores do capítulo final. Talvez, se assistido de forma isolada, o filme até funcione de outra maneira. Uma pena que não tenha funcionado como poderia. A estrela Mia Goth merecia.


Como disse o colega André Guerra: "MaXXXine não merece nem os três X no título."


Veredito: 2,3/5

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