Mikhaela Araújo
- 12 de jul.
- 5 min para ler

"Música para quem gosta de música": Festival Ponto de Ebulição fomenta mulheres artistas potiguares

Festival chega ao segundo dia da sua primeira edição nesta sexta (12). Conversamos com a idealizadora Nathalia Santana e as artistas Gracinha e Cami Santiz sobre as potências do evento

O line-up do Ponto de Ebulição, composto por mulheres potiguares | Foto: Brunno Martins

A presença feminina em festivais de música é algo que vem sendo cada vez mais pautado. Apesar de alguns eventos grandes como o Rock The Mountain (RJ) e o Primavera Sound São Paulo terem chegado a realizar edições com 100% e 50% do line-up composto por mulheres respectivamente, a igualdade entre homens e mulheres quando o assunto são festivais de música ainda é uma ilusão. Em 2023, mulheres ainda ocupavam apenas 34,6% dos line-ups segundo o levantamento Mulheres nos Palcos: diversidade de gênero e raça nos festivais brasileiros de 2016 a 2023.

Por conta do cenário ainda tão machista e misógino, é de encher os olhos quando vemos iniciativas feitas por mulheres que estão comprometidas a contribuir na mudança disso, como é o caso do festival Ponto de Ebulição, que está realizando sua primeira edição em Natal (RN) neste mês de julho, com um line-up composto 100% por artistas mulheres.

Com uma programação dividida em dois dias, 11 e 12 de julho, o evento foi criado pela produtora Nathalia Santana. Ela conta que a ideia inicial era de fazer um festival de música ibero-americana, reunindo artistas da América Latina, Portugal e Espanha e que o projeto tem ainda essa intenção. Porém, era preciso começar de algum lugar. "Por essa necessidade de iniciar o projeto de maneira bacana, interessante, que de certa forma fosse significativa e relevante para a cidade e ainda assim conseguir, dentro do que temos de recurso financeiro, fazer, resolvemos fechar inicialmente uma programação toda local."

Nathalia também é produtora de outro evento em Natal, o festival Burburinho, que mescla diversas artes. "Como o trabalho que eu faço já é um trabalho onde tem a presença de mulheres em espaço de protagonismo de maneira predominante, na minha empresa, em outros projetos que eu desenvolvo, não seria diferente no Ponto de Ebulição. [...] Sempre vejo os festivais pontuarem a presença de mulheres, com 50%, 75%, principalmente depois de muita luta nos últimos anos. Mas já quisemos chegar com o pé na porta, com 100% de mulheres no line. Além disso, no backstage, a maior parte da nossa equipe é formada por mulheres em lugares de coordenação, direção, funções de importância dentro da execução."

A escolha de um line-up composto por artistas locais de Natal não é só financeiramente mais viável, mas importante, considerando a representatividade de colocar essas artistas ocupando espaços como o tradicional Teatro Riachuelo, onde acontece o evento. A curadoria foi feita com cuidado para esses pontos, para que houvesse mulheres "que tivessem trabalhos autorais relevantes e que estivessem na ativa, desenvolvendo um trabalho com uma fã base atrelada e com uma potencialidade sonora", explica Nathalia. O ponto principal que move o Ponto de Ebulição é justamente esse: "é um festival de música para quem gosta de música", diz a produtora.

Cami Santiz, uma das artistas que se apresentam no festival em uma performance ao lado de Gracinha, disse que é uma grande honra ser chamada para o Ponto de Ebulição e reconhece a importância disso. "Minha carreira é muito recente, mas também muito intensa. Estou me dedicando muito e tentando me inserir nos espaços. Então ser notada por um grande festival, com uma proposta super nova e estar ao lado de mulheres super importantes na música do estado como Cristal e Valéria Oliveira, é de uma potência artística gigante. E principalmente estar ao lado de Isa (Gracinha), que sou grande admiradora do trabalho", explica.

Cami e Gracinha apresentam, no dia 12, o show "De Noite e De Dia". A diferença entre os estilos musicais das duas é, inclusive, um ponto interessantíssimo para a criação artística e a experiência do espectador. Cami tem uma sonoridade mais pop, enquanto Gracinha é puxada para um rock psicodélico. "Poder brincar com a possibilidade é uma alegria da música, que a música pode proporcionar para a gente brincar mesmo já que não existem limites para a criatividade", conta Gracinha.

O Ponto de Ebulição acontece no Teatro Riachuelo e o fato de ser um festival que se dá em um teatro não foi algo por acaso. Apesar da experiência em festivais com diversos palcos ser única e ter seus pontos interessantes, é diferente apreciar música em um teatro, e foi isso que a produção levou em conta. "Foi tudo muito pensado, tentar diminuir o máximo de distração e ampliar ao máximo o processo de apreciação e de conexão com o que a gente está propondo, uma experiência sonora imersiva", explica Nathalia.

Cami diz que, como artista, se apresentar num teatro é íntimo e intimidador. "Toda vez que alguém me assiste cantar sentado, eu sei que a pessoa está ali prestando atenção em mim. Então aquilo causa uma tensão, mas uma tensão boa, que causa uma conexão tanto do artista para o público quanto do público para o artista."

Para Gracinha, que nunca tocou em um teatro, é um desafio, mas um bom desafio. "A gente tem que pensar o show de uma forma diferente. É uma responsabilidade maior, mas está sendo muito legal, porque é outra experiência. Estou bem empolgada e bem feliz de poder estar fazendo esse show em um teatro", conta.

O festival

O festival de música Ponto de Ebulição acontece nos dias 11 e 12 de julho de 2024 no Teatro Riachuelo com programação gratuita. Considerando a crescente demanda por representatividade na indústria musical, a primeira edição conta com shows exclusivos das cantoras Khrystal, Valéria Oliveira, Dani Cruz, Simona Talma e os encontros inéditos de Cami Santiz com Gracinha e Sarah Oliver com Tiquinha Rodrigues.

Na crista da onda contemporânea, Gracinha e Cami Santiz apresentam, em um show exclusivo, seus repertórios autorais com novos arranjos e experimentações. A cantora Khrystal revisita “Dois Tempos”, seu primeiro disco de composições próprias, lançado em 2012. Em um dueto inédito, Sarah Oliver convida a musicista Tiquinha Rodrigues para um encontro de gerações. Celebrando os 18 anos do álbum “A Moça Mais Vagal que Há”, Simona Talma remonta o show de estreia de sua carreira solo. Das rodas de samba ao carnaval, Dani Cruz celebra dez anos de carreira revisitando sucessos e compartilha sua versatilidade com spoilers de um novo trabalho. A cantora e compositora Valéria Oliveira celebra os 33 anos de carreira com um show que coleciona as pérolas da sua trajetória musical autoral.