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"Napoleão" traz narrativa cômica e confusa sobre o imperador francês

O novo longa de Ridley Scott é confuso e não consegue aprofundar na história do personagem


Joaquin Phoenix interpreta Napoleão no novo filme de Ridley Scott. Foto: Divulgação

A história de Napoleão Bonaparte foi contada e recontada diversas vezes em salas de aula, livros, documentários, séries e filmes. O “grande” imperador francês teve uma ascensão meteórica até ao poder, e é descrito como um homem de grande inteligência e de baixa estatura.


Produzido pela AppleTV, "Napoleão", novo filme de Ridley Scott, com roteiro de David Scarpa, tenta trazer as complexidades em volta do personagem histórico e como isso afetou diretamente a história da humanidade. Joaquin Phoenix interpreta Bonaparte enquanto Vanessa Kirby estrela como Josephine de Beauharnais.


O filme conta a história da ascensão até a derrocada de Napoleão. Enquanto ascendia ao poder, após ganhar popularidade pelas vitórias nos campos de batalha, conheceu Josephine de Beauharnais, e viveu um amor conturbado e problemático. A todo tempo, a imagem do “grandioso homem”, que tanto foi cultivada pelos franceses, é quase desconstruída ao ponto de se tornar cômica.


O problema é também histórico


Cena do filme 'Napoleão' em que o personagem invade o Egito. Foto: Divulgação

Antes mesmo da estreia, o diretor demonstrou que a veracidade histórica não era uma prioridade máxima do filme, o que incomodou parte do público. E de fato, há erros crassos no longa, como Napoleão assistindo Maria Antonieta ser guilhotinada. Mas o principal erro é a famosa expedição ao Egito.


O grande problema não é a cena em si, mas a sequência de fatos que isso se sucedeu. No longa, mostra as tropas francesas bombardeando uma pirâmide e depois o retorno dele ao país após descobrir traições da mulher. Os historiadores afirmam que é muito difícil que ele tenha ordenado destruir um monumento, já que era um grande admirador e colecionador de arte.


Além disso, eles apontam que o que também motivou a volta de Bonaparte para a França foi a instabilidade política do momento. O Diretório ainda comandava o país e estava sendo muito atacado pelo povo por problemas de corrupção. E a partir disso, acontece o Golpe, conhecido como o Golpe do 18 Brumário. Esses detalhes não são ditos de forma explícita para o público, que precisa relembrar os livros de história para se situar.


Um grande problema do filme é a maneira rápida que a história é conduzida. Em alguns momentos, há uma tentativa de narrar uma série de fatos cronológicos, mas em outros é um grande amontoado de fatos que mudaram o rumo do mundo sendo exibidos de uma forma corrida.


Há uma expectativa para ver a versão estendida, que será disponibilizada na AppleTV+ ainda sem data. Scott confirmou que para o streaming, o longa terá mais de 4 horas de duração. Nos cinemas, será exibido a versão de 2 horas e 30 minutos.


Guerra como ponto alto



O ponto alto do filme são as cenas de conflitos e das guerras, e sendo um filme de Scott, isso não é algo que surpreende. O também diretor de 'Gladiador' mostra o caos generalizado das batalhas, sem se prender a personagens secundários. Tudo se volta para Napoleão e os seus comandados de alta patente.


A fotografia é bonita e traz emoção em poucos momentos no filme, com as guerras, porém o grande problema foi na escolha das cores. Tudo é muito frio, mórbido, escuro, difícil de realmente visualizar e compreender o que acontece ao redor.


A maioria das cenas passa a sensação, ruim, de ser algo velho, monocromático, sem vida e muitas vezes sem grande emoção. As cenas das guerras são uma exceção e é possível compreender a grandeza dos fatos, como Napoelão assistindo parte da cidade russa pegando fogo, estratégia da terra arrasada.


A escolha de Phoenix para o papel chamou a atenção muito pela altura do ator, que tem 1,73m, enquanto o Bonaparte tinha 1,68m. Uma das características do personagem francês é o fato da sua grandiosidade, para os livros, ser o contraste do seu tamanho.


Porém o longa coloca Napoleão em perspectiva mais baixa mesmo de uma forma imperceptível. A todo tempo, quem assiste consegue enxergar a pequeneza dele tanto humana quanto física. Os detalhes de ter um homem para o impulsionar a montar ou um banquinho para subir no cavalo são alguns dos exemplos disso.


Quem é esse Napoleão?



A atuação de Phoenix é o ponto alto do filme, junto com a Kirby. A construção de um Napoleão bobo, desatento, desajeitado, mal-educado, instável, infantil, grosseiro, sem tato para lidar com o outro, cruel, megalomaníaco e tantos adjetivos ruins, chama a atenção e faz o público acreditar que ele é realmente daquele jeito. Além disso tudo, ele é cômico até o ponto do ridículo. Não se acanhe em ri, há um humor peculiar e até pastelão em algumas cenas.


O Bonaparte do ator não tem expressão, é frio e calculista ao mesmo tempo que se deixa levar pelo sentimento forte que tem por Josephine. Kirby faz uma dramática e complexa mulher, que gosta do marido, mas ao mesmo tempo não suporta a vida monótona que leva em aguardar a chegada dele para irem a cama com intuito de gerar herdeiros.


Vanessa Kirby interpreta Josephine em 'Napoleão'. Foto: Divulgação

Os dois são o ponto de emoção no filme, já que é dado uma grande atenção ao casamento conturbado, a separação e a troca das cartas. O filme se concentra em contar uma história de amor difícil para tentar de alguma forma humanizar o personagem.


E esse talvez seja outro grande problema: por mais que se tente humanizar de alguma forma, isso é praticamente impossível de se fazer. Não há um aprofundamento na história dele ou nos conflitos pessoais que enfrentou ao ponto de quem assiste sentir, no mínimo, pena


Nos momentos mais “normais e humanos” de Napoleão o público é relembrado o quanto ele foi inteligente e ganancioso ao tentar colonizar e destruir novas terras com o objetivo de conquistar ainda mais poder. A cinebiografia não segue uma linha, em defender ou condenar as atitudes. Ela vai costurando conflitos pessoais e de interesse para demonstrar que ele era um homem complexo.


O fato do filme ser falado em inglês - e isso me arrancou uma grande risada - e a maioria dos atores não serem franceses é algo que pode incomodar. O nacionalismo francês é ironizado nas decisões da produção e também no filme em momentos de adoração incondicional a pátria.


O fato é que ‘Napoleão’ de Ridley Scott tenta dizer muita coisa ao mesmo tempo que não consegue falar exatamente o que deseja. O filme é longo e o tempo é sentido pela falta de emoção e efusividade dos conflitos internos e externos do personagem.


Veredito: 2,8/5


*Esta matéria foi escrita com apoio de informação do site Aventuras na História


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