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Foto do escritorThallys Rodrigo

“O Assassino” até atira, mas não mata

Atualizado: 7 de dez. de 2023

Com Michael Fassbender e Sophie Charlotte, novo filme de David Fincher é empolgante, mas um pouco limitado


Pessoas matam outras pessoas por diversos motivos.


Vingança, psicose, conveniência ou até mesmo fé já foram estopim do ato de tirar a vida de alguém, e o diretor David Fincher já explorou várias dessas motivações, em filmes como “Se7en”, “Millenium” e “Garota Exemplar”.


“O Assassino”, novo filme do cineasta, parece ser um animal da mesma espécie, mas de outra raça, no que se refere a uma reflexão sobre o ato de matar (e especialmente sobre quem mata).


Após estrear no Festival de Veneza, o longa estreia na Netflix no próximo dia 10. Trata-se de uma obra mais quieta, minimalista e, por um lado, um tanto quanto questionável.


Aqui, Fincher consegue, mais uma vez, nos atingir, mas o tiro é menos certeiro.



Falar e fazer a morte


“O Assassino” começa em Paris, com o protagonista, um assassino de aluguel experiente, cujo nome nunca conhecemos, se preparando para mais um serviço.


Porém, dessa vez, nem tudo sai como planejado, e um erro fatal gera uma cadeia de eventos que coloca em risco a integridade do assassino e de sua namorada, Magdala (Sophie Charlotte).


O assassino sai então em busca de quem o contratou, procurando respostas sobre quem está colocando sua cabeça à prêmio.


Na seção inicial do filme, vemos pouco a pouco a tediosa rotina da tocaia do “profissional”, aguardando a hora certa da execução.


Infelizmente, o espectador não apenas observa o tédio do protagonista, mas também o sente, não pela demora para que o crime enfim ocorra, mas por conta da narração em off constante do assassino.


O personagem se dirige diretamente ao espectador, abordando tópicos como a suposta razão para estar nesse trabalho (dinheiro), seu método de preparo para matar, e como ele é, acima de tudo, um profissional, sem motivações pessoais envolvidas.


A voz de Fassbender é impactante, mas a escolha do filme em focar apenas nele durante boa parte de sua duração traz consigo uma narração excessiva, tediosa, repetitiva, e que às vezes explica pro espectador coisas que ele deveria perceber sozinho.


Felizmente, o incômodo com a narração é diluído com o tempo, e ela se torna mais escassa e bem utilizada, ainda que constantemente ainda faça o filme lembrar comerciais antigos da Hyundai.


Confissões de um assassino em crise


O erro cometido pelo assassino no começo do filme finalmente injeta adrenalina na produção, que a partir daí, se torna mais e mais empolgante, à medida que o assassino salta de Paris para a República Dominicana para Nova York em busca de respostas (ou seria vingança?).


É através de cenas tensas e bem esquematizadas que o filme constrói, discretamente, seu mote principal: o de um assassino que se achava superior às suas vítimas, desconectado emocionalmente delas e de suas mortes, e que descobre que isso não é o caso.



Em sua jornada sanguinária, ele é confrontado com conceitos como empatia e seu próprio desejo de vingança, até concluir, no fim, que não há nada de desconexão emocional no que ele faz, e que não há nada que separe ele mesmo das pessoas que vitimou.


Acima de tudo, basta a combinação de fatores correta para que ele se torne mais uma possível presa, mesmo se achando predador.


Essa jornada é envolvente, muito além do roteiro, por conta da direção certeira de Fincher, que se destaca especialmente em uma cena de luta do protagonista com outro assassino. Além disso, o visual minimalista combina bastante com o tom dado ao longa.


Michael Fassbender, está muito bem no papel principal, mas é Tilda Swinton que brilha para valer em uma de suas poucas cenas de destaque no longa, como uma colega de profissão do protagonista.


O resto do elenco também é satisfatório, mas não tem muito como se destacar, sendo seus personagens, em sua maioria, meras peças a serem eliminadas do tabuleiro pelo Assassino com A maiúsculo título.


Isso inclui a brasileira Sophie Charlotte, que tem um importante, porém breve papel no longa.


Sua atuação é comprometida e deixa interrogações sobre sua personagem que nunca são respondidas, por conta do formato de Lobo Solitário do longa.


Sua relação com o Assassino não é explorada a fundo, um certo calcanhar de Aquiles no minimalismo da narrativa, que acaba por incomodar.



É só isso, não tem mais jeito, acabou


Ainda sobre respostas, no fim do filme, o personagem-título encontra as suas, mas é impossível não sentir que a conclusão é um anticlímax.


Fica uma sensação de “é só isso?” motivada pela própria estrutura narrativa, que começa se apresentando como um estudo de personagem, mas que, ao decorrer do caminho muda de rota e passa a ter sequências impactantes para além do desenvolvimento do assassino, ainda que o foco em reflexões existenciais não seja abandonado.


No fim, o filme parece decidir voltar a ser, apenas, sobre reflexões humanísticas, e a sensação de “muito barulho por nada” toma conta.


De forma geral, “O Assassino” causa surpresa por destoar de outras obras de Fincher focadas em pessoas com sangue nas próprias mãos.


Essa surpresa ora é agradável, devido a simplicidade e elegância geral do filme, ora não, como no fim anticlimático e na narração excessiva.


Trata-se de um filme bom o suficiente para agradar, mas low profile demais para arrebatar.


Quase como um assassino que até disparou o tiro, mas não matou.


Veredito: 3,5/5

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