"Os Fantasmas Ainda Se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice": nostalgia não é sustento
Novo longa de Tim Burton é divertido e nostálgico, mas peca ao não renovar sua história
36 anos depois do clássico Os Fantasmas Se Divertem: Beetlejuice (1988), o cineasta Tim Burton conseguiu finalmente colocar no mundo a sequência do filme, Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, com parte do elenco original de volta, ambientado na mesma Casa Assombrada e, infelizmente, sem grandes novidades além de se escorar bastante na nostalgia dos fãs do primeiro.
Michael Keaton, Winona Ryder e Catherine O'Hara retornam aos seus papeis de origem e dão espaço para Jenna Ortega, Willem Dafoe, Justin Theroux e Monica Bellucci. Keaton, assim como no primeiro, rouba a cena em todos momentos que aparece. O ator conseguiu captar o que é preciso numa sequência desse tipo, que é usar a memória do personagem ao seu favor mas atualizá-lo ao mesmo tempo para as novas audiências. O irreverente e caótico Beetlejuice ainda tem a mesma essência, mas as novas camadas adicionadas fazem sentido e, mesmo quase quatro décadas depois, ainda divertem quem assiste. Burton acertou de mão cheia na dosagem da nostalgia com ele.
Em Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, Lydia Deetz (Winona Ryder) é uma psíquica famosa e apresenta um famoso programa de TV. Tem uma relação complicada com a filha, Astrid Deetz (Jenna Ortega), que perdeu o pai e não acredita que a mãe realmente consegue ver "fantasmas". Numa morte repentina na família, as duas precisam voltar à casa da infância de Lydia, juntamente com o namorado dela, um homem forçadamente excêntrico interpretado por Justin Theroux.
Jenna Ortega é a representação da nova geração no filme. Sua dinâmica com Winona funciona, as duas realmente tem energias bem parecidas e convencem como mãe e filha. No entanto, a estética de "garota estranha que usa preto" já está meio saturada para Ortega, que parece ser chamada para reprisar o mesmo papel em obras diferentes, mal que já atingiu alguns atores de Hollywood. Winona, também repetitiva, emula a mesma atuação que usou em outros filmes. Chega um momento em que você fica cansado de já saber como elas vão reagir, quais expressões vão fazer, como vão falar tal frase ou coisas do tipo.
O sentimento de que o filme é repetitivo não fica somente em Winona e Jenna. O tempo inteiro, o longa busca na nostalgia sua força motriz. Não há nenhum problema em evocar essa memória, principalmente quando a homenagem e o fan service são bem feitos. Porém, quando se lança uma sequência, mesmo sendo quase quatro décadas depois, também é necessário repaginar a história, trazendo novidades instigantes. E este não é o caso.
Willem Dafoe é, provavelmente, a única novidade realmente interessante. Seu personagem caricato é engraçado e consegue ter camadas, mesmo sendo secundário. É aqui que temos outro ponto negativo, já que Dafoe tem mais desenvolvimento que a personagem de Monica Bellucci, por exemplo. Interpretando a ex-esposa maligna de Beetlejuice, a atriz teve seu potencial completamente desperdiçado. Você quase esquece que ela está na história, mesmo com a sua personagem sendo essencial para a trama (na teoria).
Os acertos de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice também estão na escolha estética. Mesmo sendo um filme da década de 2020, os elementos oitentistas, os efeitos bizarros e as figuras macabras estão todos presentes sem tentar forçar um realismo que não existe. O universo criado por Burton é irreal, fantástico e ele sabe que não há intenção alguma de se parecer com nossa realidade.
O trabalho de maquiagem e efeitos práticos é irretocável. A direção de arte do filme enche os olhos e, com certeza, melhora bastante a experiência. Inclusive, falando em universo de Burton, o diretor conseguiu trazer vários dos seus elementos preferidos, do stop-motion aos visuais de cinema antigos. O resultado é divertido.
Infelizmente, nostalgia não é tudo. Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice precisava de mais que evocação de memória afetiva e mil easter-eggs para ser realmente uma boa obra cinematográfica. Diverte, tem boas piadas e ótimos momentos, mas não consegue ser bom como seu antecessor — que, talvez, tenha sido realmente bem recebido e se tornado um clássico justamente por conta de sua época. Tim Burton precisa renovar um pouco sua criatividade (e escalar pessoas negras para papeis relevantes, ao invés de enfiá-las em cenas rápidas sem muito sentido).
Veredito: 3/5
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