Oscar 2021: os pontos fortes (e fracos) da noite
Atualizado: 28 de abr. de 2021
Evento mais aguardado da temporada de premiações de 2021, o Oscar aconteceu neste domingo (25). Em meio a uma pandemia e com boa parte da população estadunidense vacinada, a 93ª edição da cerimônia foi realizada em Los Angeles, na Califórnia, com um número reduzido de convidados.
Produzida por Jesse Collins Stacey Sher e pelo cineasta Steven Soderbergh, a festa foi a primeira da temporada de prêmios a acontecer de forma quase completamente presencial, com o retorno do público desde o começo da pandemia. Mesmo assim, os artistas caminharam por um tapete vermelho bem mais vazio que o normal, com regras de distanciamento social. A maior parte das coisas funcionaram, mas infelizmente isso não se aplica ao evento por inteiro - tanto no formato quanto nos prêmios.
Cerimônia objetiva e intimista
Assim como em 2020, não houve um host (apresentador principal responsável por apresentar a cerimônia). A transmissão foi mais ágil, sem tantas piadas, diferente do que aconteceu em outras edições. A abertura foi feita por Regina King, diretora e atriz, que não recebeu nenhuma indicação no Oscar 2021. King chegou a fazer uma referência à condenação do ex-policial Derek Chauvin pelo assassinato de George Floyd:
"Se as coisas tivessem terminado diferente em Minneapolis, eu poderia ter trocado meus saltos por botas de marcha" - Regina King no Oscar 2021
As tradicionais apresentações musicais foram gravadas com antecedência, sendo exibidas num pré-show. Isso ajudou a evitar aglomerações, mas acabou deixando o evento um pouco monótono para quem assistiu, principalmente de casa. Soderbergh disse que a festa seria mais curta, mas acabou com a mesma duração das outras edições mesmo sem as apresentações.
Num clima intimista parecido com uma sala de jantar, quase todos os ganhadores estavam presencialmente na Union Station em LA e subiram ao palco para receber o troféu. As exceções foram o ator Anthony Hopkins, de 83 anos, vencedor do Oscar de Melhor Ator por 'Meu Pai', e a figurinista Ann Roth, de 89 anos, vencedora por 'A Voz Suprema do Blues'. Ambos são agora os mais velhos a receber o prêmio em suas respectivas categorias.
Parte dos indicados participaram da premiação à distância. Olivia Colman e Gary Oldman, por exemplo, apareceram nas telas diretamente do British Film Institute, em Londres. Sacha Baron Cohen e sua esposa Isla Fischer estavam na Austrália. Também houve links de indicados em Paris, Roma e Dublin, na Irlanda.
Surpresas desagradáveis
A inversão de ordem dos prêmios, transferindo o anúncio de Melhor Filme para antes das categorias de Melhor Atriz e Ator, criou a expectativa de que Chadwick Boseman seria o grande vencedor da estatueta, mas não foi o que aconteceu. Chadwick faleceu em 2020 em decorrência de um câncer, mas foi indicado postumamente por sua excelente atuação em 'A Voz Suprema do Blues'. A homenagem especial não foi feita e a cerimônia acabou de forma brusca e anticlimática, com um Joaquin Phoenix desconfortável ao receber o prêmio (merecido) de Anthony Hopkins em nome do ator. Segundo seu agente, Hopkins estava dormindo no momento da vitória - já eram 4h da manhã no País de Gales, onde ele está morando. O renomado ator gravou um vídeo de agradecimento e mencionou Chadwick em seu discurso.
Além de não terem feito uma homenagem maior para o eterno "Pantera Negra" da Marvel, o Oscar também 'esqueceu' alguns nomes importantes no In Memoriam, bloco tradicional que contempla as estrelas que morreram no último ano. O público sentiu falta de atrizes como Naya Rivera e Jessica Walter, a icônica Lucille de 'Arrested Development'.
Outro incômodo foi a ausência de clipes com trechos dos indicados no anúncio das categorias. O recurso, sempre utilizado em outras edições, ajuda a reforçar e ressaltar o talento e trabalho dos artistas envolvidos nas produções.
Um Oscar um pouco menos 'branco'
A diversidade foi uma aposta do 93º Oscar, desde as indicações até os ganhadores. 'Nomadland', da chinesa Chloé Zhao, foi o grande nome da noite, ganhando três das seis indicações que recebeu, incluindo a de Melhor Filme. Frances McDormand, protagonista do longa, levou o prêmio de Melhor Atriz e Chloé Zhao ganhou seu primeiro Oscar, por Melhor Direção. Zhao fez história ao se tornar a segunda mulher, primeira asiática e também primeira mulher não-branca a ganhar a categoria em mais de 90 anos.
LEIA TAMBÉM: Crítica de 'Minari' e 'Judas e o Messias Negro'
Os discursos dos premiados foram feitos de forma calma, sem serem apressados por conta do tempo curto de outras edições, o que rendeu ótimas falas. Daniel Kaluuya conquistou seu primeiro Oscar pela atuação em 'Judas e o Messias Negro', em que interpretou o ativista Fred Hampton. Kaluuya fez uma fala forte agradeceu ao revolucionário comunista, líder dos Panteras Negras, assassinado friamente pelo FBI em 1969, após ser traído por William O'Neal - interpretado por LaKeith Stanfield.
Yuh-jung Youn, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em 'Minari', é conhecida pela falta de papas na língua e divertiu o público, com um discurso cheio de humor e agradecimentos. Flertou com Brad Pitt, disse que era a mais sortuda mas que todas as outras indicadas mereciam o troféu e mencionou os filhos. A atriz é agora a primeira coreana a levar o prêmio na categoria.
Com 17 premiadas, essa edição bateu recorde de vencedoras mulheres numa única noite. Emerald Fennell foi o único nome feminino na categoria de Melhor Roteiro Original por 'Bela Vingança' e levou a estatueta. Ao lado de Chloé Zhao, Emerald já havia participado de um feito histórico: foi a primeira vez que duas mulheres estavam indicadas por Melhor Direção.
Mia Neal e Jamika Wilson, vencedoras do prêmio de Melhor Cabelo e Maquiagem por 'A Voz Suprema do Blues', fizeram um discurso forte e importante. As duas foram as primeiras vencedoras negras da categoria, numa vitória merecida.
"Posso imaginar mulheres trans negras de pé aqui, nossas irmãs asiáticas, nossas irmãs latinas e mulheres indígenas. E eu sei que um dia isso não vai ser mais algo incomum ou inovador. Será simplesmente normal" - Mia Neal no Oscar 2021
Apesar de andarmos a passos de tartaruga, tais feitos são importantes para o cinema. Essas são consequências de pressões de movimentos sociais, como por exemplo o #OscarsSoWhite, que forçou a Academia a fazer uma mudança em seus votantes. Lembrando que nos últimos 4 anos, diretores não-estadunidenses levaram o prêmio de Melhor Direção: 'A Forma da Água' (2017) de Guillermo del Toro em 2018; 'Roma' (2018) de Alfonso Cuarón em 2019; 'Parasita' (2019) de Bong Joon-ho em 2020 e agora, em 2021, 'Nomadland' (2020) de Chloé Zhao.
Os perdedores da noite
Produção da Netflix, 'Mank', de David Fincher, havia sido indicado em dez categorias, mas levou apenas duas estatuetas: Melhor Design de Produção e Melhor Fotografia - sendo esse último uma surpresa: o favorito do público era 'Nomadland'. Fincher fez o filme para homenagear o pai, Jack Fincher, roteirista de 'Cidadão Kane' (1941). Numa coincidência infeliz, o ponto mais fraco de 'Mank' é o roteiro, ao contrário do longa que faz homenagem: Cidadão Kane levou o Oscar de Melhor Roteiro Original na época.
Um filme que saiu de mãos abananando foi 'Os 7 de Chicago', de Aaron Sorkin, que foi indicado em seis categorias e levou zero. O longa dividiu opiniões entre a crítica, apesar do quase consenso sobre a atuação de Sacha Baron-Cohen como Abbie Hoffmann. 'Minari', de Lee Isaac Chung, ganhou apenas uma das seis indicações que recebeu.
Glenn Close foi, mais uma vez, ignorada pela Academia. Oito vezes indicada ao Oscar, a derrota da vez foi na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante por 'Era Uma Vez Um Sonho', em que perdeu para Yuh-jung Youn. Apesar disso, a atriz de 74 anos não deixou a peteca cair e rebolou ao som da música "Da Butt", do filme 'Lute Pela Coisa Certa' (1988) de Spike Lee. Glenn foi aplaudida pelos colegas presentes e recebeu elogios na internet.
LEIA TAMBÉM: Onde assistir aos filmes do Oscar 2021
Confira a lista de vencedores do Oscar 2021
Melhor filme
Nomadland
Melhor direção
Chloé Zhao, de 'Nomadland'
Melhor ator
Anthony Hopkins, de 'Meu Pai'
Melhor atriz
Frances McDormand, de 'Nomadland'
Melhor ator coadjuvante
Daniel Kaluuya, de 'Judas e o Messias Negro'
Melhor atriz coadjuvante
Youn Yuh-jung, de 'Minari'
Melhor filme internacional
'Druk - Mais uma Rodada', Dinamarca
Melhor roteiro adaptado
Christopher Hampton e Florian Zeller, por 'Meu Pai'
Melhor roteiro original
Emerald Fennell, por 'Bela Vingança'
Melhor figurino
Ann Roth, por 'A Voz Suprema do Blues
Melhor trilha sonora
Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste, por 'Soul'
Melhor animação
Soul
Melhor curta de animação
Se algo acontecer... te amo
Melhor curta-metragem de ficção
Dois Estranhos
Melhor documentário
Professor Polvo
Melhor documentário de curta-metragem
Collete
Melhor som
Nicolas Becker, Jaime Baksht, Michelle Couttolenc, Carlos Cortés e Phillip Blath , por 'O Som do Silêncio'
Melhor canção original
'Fight for You', de 'Judas e o Messias Negro'
Melhor cabelo e maquiagem
Sergio López Rivera, Mia Neal e Jamika Wilson, por 'A Voz Suprema do Blues'
Melhores efeitos visuais
Andrew Jackson, David Lee, Andrew Lockley e Scott Fisher, por 'Tenet'
Melhor fotografia
Erik Messerschmidt, por 'Mank'
Melhor montagem
Mikkel E.G. Nielsen, por 'O Som do Silêncio'
Melhor design de produção
Donald Graham Burt e Jan Pascale, por 'Mank'
Comments