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Foto do escritorMikhaela Araújo

Oscar 2021: 'Nomadland' é favorito, mas a concorrência não fica para trás


A 93ª edição do Oscar acontece neste domingo (25) e os bolões estão a todo vapor. Quem vai levar o troféu de Melhor Direção Qual será o vencedor do prêmio de Melhor Ator? São muitas categorias e muitas apostas, mas a maior expectativa dos amantes da sétima arte é o prêmio de Melhor Filme.


O grande favorito da noite é 'Nomadland', dirigido por Chloé Zhao e estrelado por Frances McDormand - as duas com indicações ao Oscar de Melhor Direção e Melhor Atriz, respectivamente. O longa já ganhou diversos troféus na temporada de premiações de 2021, incluindo o Prêmio BAFTA de Melhor Filme, Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático e o Spirit Awards de Melhor Filme.


Apesar da quase unanimidade entre os cinéfilos sobre 'Nomadland' ser o vencedor da estatueta de Melhor Filme, outras produções indicadas também merecem nossa atenção. 'Minari', dirigido por Lee Isaac Chung, venceu o prêmio principal em Sundance 2020 e "já faz parte de um movimento de assimilação do cinema asiático nos Estados Unidos", como destaca o jornalista cultural e crítico de cinema André Santa Rosa. 'Judas e o Messias Negro' também é uma boa aposta e excelente produção, que surpreendeu tanto o público quanto a crítica profissionalizada, devido a abordagem da temática racial e de classe tendo como foco os Panteras Negras.


Minari

por André Santa Rosa, especial para a TAG


Como uma família absorve a vida em outro país? Como um homem absorve as diferenças em sua família? Como um grupo de pessoas permite que o solo onde pisa seja seu sustento e sua terra, mesmo estando quilômetros de seu local de nascimento? 'Minari' (2020) acredita que um território e uma família são ideias, não exatamente lugares determinados para nós. E nesta ideia cabe muita beleza.


Desvelando possibilidades para uma família de imigrantes sul-coreanos, 'Minari', de Lee Isaac Chung, se passa no espaço rural e bucólico do Arkansas dos anos 1980. A paisagem rural vira palco para tramas de um universo familiar muito sincero, articulado em dramas e um retrato vívido de assimilações diversas do sonho americano. Antes de tudo, o longa trabalha com uma narrativa sobre a busca de uma forma possível de habitar esse sonho.


É interessante pensar o enredo a partir dos seus contornos de autoficção, já que Lee Isaac, nascido nos EUA mas de família sul-coreana, morou parte da sua vida no Lincoln, Arkansas. E nesse sentido, esse relato a partir de uma biografia pessoal ficcionalizada, traçando muito bem uma relação entre os conflitos de uma identidade individual, coletiva, geracional, local e emocional.


Com belas atuações, com destaques para Steven Yeun e Alan Kim, visuais solares da direção de fotografia e bela trilha sonora, 'Minari' venceu o prêmio principal em Sundance 2020 e já faz parte de um movimento de assimilação do cinema asiático nos Estados Unidos. Após o gesto da Academia do Oscar de premiar 'Parasita' (2019), com o inesperado primeiro prêmio de Melhor Filme para um longa não-falado em inglês, talvez fosse muito esperar mais um Oscar de Melhor Filme para uma produção estrangeira – devido às tensões políticas já conhecidas da Academia. Mas não custa cultivar e torcer pelo melhor.


Judas e o Messias Negro

por Mikhaela Araújo


A representação de acontecimentos históricos em produções audiovisuais, principalmente estadunidenses, ainda é um tópico polêmico em qualquer discussão cinematográfica. Quando se tratam de eventos diretamente políticos, é ainda mais delicado. Evidentemente, as grandes produtoras hollywoodianas não estão interessadas em apresentar narrativas que batem descaradamente de frente contra o sistema capitalista, tendendo a distorcer organizações e personalidades de esquerda. Um exemplo disso é 'Os 7 de Chicago' (2020), de Aaron Sorkin, distribuído pela gigante Netflix. Mas os motivos dessa constatação já são assuntos para outro texto.


'Judas e o Messias Negro' (2021), segundo longa-metragem do diretor americano Shaka King, narra os últimos meses antes da morte de Fred Hampton, revolucionário comunista friamente assassinado em 4 de dezembro de 1969, quando tinha apenas 21 anos. Hampton foi presidente da filial de Illinois do Partido dos Panteras Negras e vice-presidente do BPP nacional. Interpretado de forma excelente e definitivamente histórica por Daniel Kaluuya ('Get Out', 2017), ele é uma das principais figuras do drama biográfico, mas não é o único protagonista. King decidiu focar na relação de Hampton com William O'Neal, informante do FBI que se infiltrou nos Panteras Negras e tramou, ao lado do departamento investigativo, o assassinato do líder ativista.


Os interesses de Shaka King na direção do filme vão aparecendo conforme os acontecimentos se desenvolvem. Entre eles, está o de evidenciar os conflitos sociais entre classes e movimentos na década de 60 nos EUA, ato que King fez com maestria, mesmo com a pouca experiência. Além do contexto histórico, o diretor explora bem a intimidade e relação dos personagens principais (ou ambos coadjuvantes?), com ajuda das ótimas atuações de LaKeith Stanfield - que interpreta O'Neal - e Daniel Kaluuya, ambos concorrentes ao Oscar de 'Melhor Ator Coadjuvante'.


'Judas e o Messias Negro' é o primeiro longa produzido por uma equipe composta inteiramente por pessoas negras a concorrer à 'Melhor Filme' na história do Oscar. O cuidado da produção se reflete no filme na forma como os personagens são desenvolvidos, mas fica ainda mais evidenciado nos momentos mais delicados da trama, como o da morte de Hampton. Talvez esperar que a conservadora Academia do Oscar premie um filme tão corajoso quanto 'Judas e o Messias Negro' seja utópico, mas a esperança, como o próprio longa denuncia, não pode ser deixada para trás.

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