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Foto do escritorRayane Domingos

“Priscilla” retrata de forma sensível a vida abusiva ao lado do Rei do Rock

O filme da diretora Sofia Coppola é um retrato sensível e violento de uma relação abusiva entre Priscilla Presley e Elvis Presley


A vida de Elvis Presley sempre despertou a curiosidade dos fãs e ouvintes que idolatram o "Rei do Rock and Roll". Enquanto os holofotes estavam apontados para o artista, as pessoas ao redor eram apenas mencionadas como meros mortais ao lado de uma estrela. Priscilla Presley, mulher do cantor, foi uma dessas que foi jogada à sombra dele.


Em Priscilla, filme dirigido e escrito por Sofia Coppola, a perspectiva e destaque é dado para ela, mulher que conviveu com Elvis desde a adolescência. Baseado no livro de memórias Elvis and Me, de Priscilla e Sandra Harmon, o longa é estrelado por Cailee Spaeney e Jacob Elordi.


O filme conta a história do relacionamento abusivo e conturbado de Priscilla e Elvis, desde quando ela o conheceu em 1959, quando tinha 14 anos, até a separação definitiva do casal. A prioridade do longa é narrar a trajetória da mulher desde a adolescência passando pela juventude até a fase adulta, mostrando o quanto ela precisou crescer e se adaptar aos caprichos dele.


Sensibilidade em meio a violência


Uma das características fortes dos filmes de Sofia Coppola são os mínimos detalhes que fazem a diferença quando notados. E isso é colocado em perspectiva a todo tempo, principalmente quando Priscilla é uma adolescente. Apesar da confusa maneira que ela é levada para uma festa na casa do cantor, é visível a diferença de maturidade e postura dela para os outros ao redor.


É possível perceber que o primeiro contato de Priscilla com Elvis foi de uma fã para um ídolo. E essa relação foi construída de maneira problemática desde o início, já que além dela ter 14 anos existiu uma relação de poder desde o primeiro momento. E isso é colocado de forma sutil e ao mesmo tempo muito forte desde o começo.


Com o passar dos anos, Elvis se torna mais possessivo e controlador com Priscilla e todos em sua volta. Ele consegue manipular para que ela fique ainda mais dependente dele, seja emocionalmente ou financeiramente. E isso perdurou durante todo o casamento. De fato, o longa mostra o quanto ela foi moldada, desde criança, para parecer com que ele gostava.


As cenas de violência, seja física ou psicológica, são feitas com muita sensibilidade e até um certo cuidado. É compreensivo, já que o filme é baseado no livro escrito pela própria Priscilla. Porém, ao mesmo tempo, consegue desconstruir a imagem intocável de Elvis.


O exagero do cuidado


Os comentários e burburinhos feitos desde a estreia, no Festival de Veneza em 2023, criou uma grande expectativa na cabeça dos fãs da diretora. Porém, é possível que esse frisson não seja completamente correspondido e muito por conta de um detalhe: qual a imagem de Priscilla e Elvis o público cultivou?


Para quem enxerga o artista como uma figura acima de qualquer suspeita e a empresária como uma companheira passiva, vai se surpreender e chocar pela maneira que Elvis aparece no filme. A todo tempo, a imagem de um homem instável e machista é exposta na tela.


Mas caso você compreenda que apesar dele ter sido um bom artista, foi uma pessoa cruel e insensível com a mulher que esteve ao lado dele durante quase toda a vida, o filme pode parecer sensível e delicado até demais.


As cenas das agressões são, em muitos momentos, sutis e acabam sendo suavizadas, já que as de carinho e diversão são superdimensionadas. Não se assuste se caso em algum momento você se pegar torcendo, de alguma forma, pelo casal, isso é efeito da escolha da direção aliado a boa química dos atores.


Os protagonistas dominam o filme


A decisão de manter Cailee Spaeny interpretando a personagem nas três fases foi mais do que acertada. Era possível ver a menina de 14 anos que se encantou pelo ídolo, se envolveu amorosamente, abandonou tudo, inclusive com certa negligência da família, para viver esse “sonho de amor”. As cenas em que ela conhece esse mundo enganoso e cruel da fama é de uma delicadeza imensa porque na tela, você enxerga uma criança sendo montada por um adulto.


Além disso, a atriz consegue demonstrar a fragilidade da adolescência, o medo, as perguntas sem respostas. As sequências de um Elvis mandando e desmandando de forma agressiva e completamente machista no jeito que ela deve se vestir e portar são angustiantes.


Com o passar dos anos, a Cailee incorpora a Priscilla adulta e com tantas demandas sociais e familiares por ser casada com um cantor de sucesso. É possível perceber o quanto aquela vida de falsidade e restrições foi mudando completamente a cabeça dela. De uma jovem curiosa e inteligente para uma mulher montada como personagem de The Sims. 



E o outro grande acerto foi a escalação de Jacob Elordi como Elvis. A construção do personagem é realmente incrível e ele merece também os aplausos. Ele conseguiu trazer uma imagem do cantor diferente do que já foi feito. É natural as comparações com o Austin Butler em 'Elvis', já que são propostas distintas. 


A diferença de altura, e tamanho, do Jacob para a Cailee ajudou muito a construir esse cenário. O fato dela olhar sempre para cima ao falar com ele, a diferença no tamanho das mãos, a perspectiva de altura dele para a dela, tudo isso faz como que o telespectador compreenda ainda mais a gravidade das agressões que ela sofria durante o casamento.


A direção de arte, cenário e figurino também chamam muito a atenção. As obras de Sofia são detalhistas e minuciosas que falam muito, e não é diferente com este filme. Somos transportados para das décadas através das músicas, roupas, maquiagens, carros e até o estilo de falar e andar. 


Apesar do excesso de delicadeza, Priscilla de Sofia Coppola nos ajuda a ter um pouco de dimensão sobre a vida triste que viveu a protagonista, que teve a adolescência e inocência roubadas. Além disso, mostra o quanto o mundo da fama é construído para agradar a indústria e o público enquanto os envolvidos são meros bonecos montáveis.


Veredito: 3/5

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