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"Missão Impossível 7": Tom Cruise te convida para dançar

Novo longa continua a levar a franquia a outros patamares


Hayley Atwell e Tom Cruise em "Missão: Impossível – Acerto De Contas Parte 1" (Foto: Christian Black/Paramount)

"Essa mensagem vai se autodestruir em 5 segundos".


Tá aí uma frase que vem sendo dita desde 1966 por conta de uma certa obra chamada "Missão Impossível", que pode, inclusive, ter criado a palavra "autodestruição" em si.


Após anos de exibição bem sucedida na TV americana, esse universo de espiões, mentiras e combates extravagantes ganhou as telonas em 1996, com o rosto do astro Tom Cruise, e sua trajetória no cinema passou por altos, baixos e diferentes tons e estilos cinematográficos.


Não é surpresa que, diante desse longo caminho percorrido, tanto esse autor que vos fala quanto pai de 66 anos tenham tido contato com diferentes faces dessa história. Ele com a antiga série televisiva, e eu, com os franquia de filmes que se estende desde antes de meu nascimento até agora.


Entre tiros e saltos de para-quedas, repetição de cenas clássicas e mudanças de direção, "Missão Impossível" desafia o tempo e suas próprias convenções sem perder a identidade, se modificando como um camaleão, à medida que os tempos mudam.


Com "Acerto de Contas - Parte Um", sétimo filme da série, que estreia nesta quinta (13) nos cinemas, não é diferente, e agora as engrenagens parecem se encaixar como nunca, naquele que parece ser o melhor filme da franquia até o momento, mesmo que não escape de deslizes comuns dos outros longas e de filmes de ação em geral.


Contar a acertar


Como de costume, o filme começa com o protagonista de sempre, Ethan Hunt (Cruise), recebendo uma missão ultrassecreta. Ele deve achar sua fiel companheira Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) e recuperar uma das metades de uma misteriosa chave,


Esse artefato, de alguma forma, está conectado à Entidade, uma perigosa inteligência artificial que oferece uma grande ameaça a todo o mundo, por ter o potencial de enganar até mesmo sistemas militares ou de comunicação alta tecnologia.


Em meio à sua missão, Ethan está mais uma vez ao lado de velhos conhecidos, como Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), além de cruzar o caminho da charmosa ladra Grace (Hayley Atwell).


Sem dúvidas "Acerto de Contas - Parte Um" possui uma energia nunca antes vista na franquia. Ainda que recicle elementos de filmes anteriores, o filme se posiciona em novo território, e um dos fatores decisivos para isso é o posicionamento de uma IA como o inimigo da vez.


Os questionamentos levantados sobre o filme em relação a como conhecer e preservar a verdade, em um mundo em que a tecnologia pode controlar narrativas, são atuais e muito bem-vindos, ainda que já tenha sido vistos em outros filmes.


Porém, o atrativo do 7º "Missão Impossível" vai além, e reside especialmente no casamento praticamente perfeito entre a ação, o humor e os elaborados plot twists tão característicos da franquia.


Tom Cruise saltou de um penhasco com uma moto durante as gravações do novo longa (Foto: Christian Black/ Paramount)

Os primeiros longas causam uma certa estranheza por oscilarem, cada um à sua maneira, entre um tom mais sério e básico de filme de ação e uma abordagem mais "exagerada" e megalomaníaca nas sequências mais movimentadas, bem como a presença de humor em meio a tudo isso.


Se no início da série de longas a mistura não era das melhores, é possível notar um aperfeiçoamento, especialmente desde o 4º filme, "Protocolo Fantasma" (2011), dirigido por Brad Bird. Antes, os longas se perdiam um pouco em relação Às diferentes tendências de direção presentes, como o suspense imprimido por Brian de Palma no 1º filme, a ação propositalmente excessiva de John Woo no 2º e o tom mais neutro de J.J. Abrams no terceiro longa.


Desde que assumiu a franquia com "Nação Fanstasma", em 2015, o diretor Chistopher McQuarrie tem conseguido dar uma unidade melhor aos vários elementos dos longas da série, que agora também apresenta melhor.


Com isso, temos em "Acerto de Contas" um versão tão boa quanto e talvez até melhor do que já foi visto no 6º filme, "Efeito Fallout", com um humor que de fato diverte; uma ação perfeitamente filmada e executada; e uma história que cativa, sem que esses fatores atrapalhem uns aos outros. As duas horas e 43 minutos nem demoram a passar.


Aqui, sequências como uma perseguição em um aeroporto em Abu-Dhabi e um salto de um penhasco com uma motocicleta (gravado sem tela verde!) são apresentadas com muito dinamismo e envolvimento de quem assiste. É quase como ver um balé, mas com Tom Cruise usando um terno ao invés de um tutu.


Nada é programado, tudo é orgânico


Para além da ótima direção, o elenco também envolve com sua entrega. Hayley Atwell é extremamente carismática e sedutora; Rebecca Ferguson é o mistério em pessoa; Simon Pegg continua arrancando risadas sem esforços e é um prazer ver Vanessa Kirby como a dissimulada Alanna, a Viúva Branca.


Além disso, Tom Cruise, como sempre, emprega bem seu carisma e seu talento, tanto na ação quanto nas cenas ligadas ao desenvolvimento de seu personagem. Esse aspecto inclusive, também pode ser enxergado como um ponto positivo do longa.


Em geral, a franquia tem optado nos seus últimos 4 filmes a dar uma maior profundidade a seu herói e, de vez em quando, aos personagens a seu redor. Se nos primeiros dois filmes era preciso se agarrar num fiapo de história e de caracterização, isso não acontece mais aqui.


Tematicamente, vemos um Ethan como sempre determinado a fazer o que considera certo, custe o que custar, mas com uma melancolia causada pelos riscos que suas ações e sua vida trazem a quem está perto.


Benji, Luther, Ethan e Ilsa, time principal do 7º "Missão Impossível" (Foto: Paramount)

Os últimos filmes definem muito bem o diferencial do protagonista: ele sempre agirá de forma rebelde em prol do que acredita ser o melhor para manter o mundo e seus amigos em segurança.


Dessa vez, Grace também desfruta de um grande espaço para ter uma história e uma trajetória próprias durante o longa. Sua relutância em confiar no protagonista podem ser irritantes, mas condizem com a caracterização da personagem.


Em linhas gerais, o filme se torna muito interessante ao propor a chegada de uma "nova guerra" por conta da escassez de recursos no mundo e mostrar a disputa pela "IA vilã" por parte de governos diversos, com o objetivo de poder controlar a narrativa, e a própria verdade.


Os protagonistas se veem perdidos em meio a esse cenário de mentiras e enganações, que é tão comum em filmes ligados a espionagem, mas que no filme ganham um novo contorno.


Falha técnica na missão


Como nem tudo são flores, "Acerto de Contas - Parte 1" também conta com problemas comuns do gênero. Um deles é a insistência em apresentar a morte de personagens femininas (ou violência contra elas) como parte do desenvolvimento de personagens masculinos.


A franquia já evitou esse tipo de situação antes, mas em eventos do 1º e do 5º filme, vitimou personagens femininas ligadas de alguma forma a Ethan Hunt como forma de motivação para o protagonista, ou simplesmente como um evento que o abalou.


Dessa vez, flashbacks misteriosos remetem a um momento nunca antes visto do passado de Hunt, que inclui a morte de uma mulher importante para ele, um evento que mudou sua trajetória. Sem dar muitos spoilers, outros desenvolvimentos posteriores do roteiro fazem com que o filme caia ainda mais nessa tendência, chamada pela escritora Gail Simone de Women In Refrigerators (Mulheres em Geladeiras, em tradução livre).


O termo vem de uma reação a quadrinhos da DC, em que o Lanterna Verde Kyle Rayner encontra o corpo de sua namorada Alexandra - assassinada por um vilão - dentro de uma geladeira. Ainda que tenha surgido nos quadrinhos, a tendência também é encontrada em filmes live-action com elementos de ação, como "A Origem" e "OO7 - Cassino Royale".


Além disso, o plot é bem executado, mas pode ser difícil de entender e acompanhar, uma tendência já bastante estabelecida da franquia. Mesmo que isso não comprometa a experiência como um todo, deixa um certo ar de confusão no espectador em alguns momentos.


Um destaque negativo relacionado ao elenco é Pom Klementieff, não por sua interpretação, mas sim pela forma aleatória com que sua personagem, Paris, parece colocada na narrativa. Ela aparece e desaparece constantemente, e às vezes recebe bastante destaque na tela, mesmo que não tenha havido a devida construção para ela tenha o impacto desejado.


Até mesmo uma roupa de festa (estilo Arlequina) a excêntrica Paris ganha em uma sequência, mas seguimos sem saber nada conclusivo ou envolvente sobre uma figura teoricamente tão importante para a narrativa da franquia daqui para frente, mas que até o momento, apenas destoa do todo.


Pom Klementieff como Paris em "Missão Impossível 7" (Foto: Paramount)

"Sua missão, caso você deseje aceitar..."


"Missão Impossível: Acerto de Contas - Parte 1" é um triunfo do cinema de ação e merece ser visto na maior tela possível. Com elenco, história e sequências envolventes, o longa se junta ao 4º e ao 6º filmes no panteão dos melhores da série, mesmo com as ressalvas apontadas.


Com questionamentos bastante atuais, ainda que lembrem os tempos de antes, o longa deixa sua marca muito além da franquia, mas no cinema como um todo. Com um elenco afinado e um diretor que sabe muito bem o que faz, "Missão Impossível". alcança novos patamares sem abandonar aquilo que lhe faz icônica. Depois de toda a sua longa e sinuosa trajetória, isso não é pouca coisa.


Então, que ainda dancemos balé com Tom Cruise e Chistopher McQuarrie à beira de um penhasco por muito tempo.


Veredito: 4,5/5


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