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Foto do escritorBianca Dias

Shein, gordofobia e sustentabilidade: um dilema fashion a ser discutido

Atualizado: 30 de mai. de 2023

Os anos 2000 estão de volta! Pelo menos é o que a Geração Z vem mostrando por aí. Wide leg jeans, cintura baixa, Air Force 1, bolsas baguette, cores fortes e até um toque de acessórios divertidos e lentes de óculos coloridas. Não é à toa que grandes marcas da época, como a Juicy Couture, Von Dutch e Playboy voltaram à boca do povo e provam que a parcela jovem da sociedade quer evocar uma das décadas mais icônicas - pelo menos se falando do Mundo da Moda - na história da humanidade.


São inúmeras as teorias que comprovam a volta das tendências antigas, muitas delas relacionadas ao fato de que a moda é cíclica. Apesar de, no século XXI, as tendências serem planejadas cerca de dois anos antes de acontecerem, elas vão sim, algum dia, retornar ao nosso cotidiano. Entretanto, parece que, com os anos 2000, não se pode resumir sua volta ao simples funcionamento normal do ciclo fashion, pois esse período representa muito mais do que isso. Foi um tempo em que as pessoas estavam lidando com as maiores mudanças tecnológicas, o mundo ficava cada vez mais globalizado e até tinha gente que temia pelo ‘bug do milênio’ - onde acreditava-se que na virada de 1900 para 2000, os computadores do período não entenderiam a mudança de dígitos e causariam um pane no sistema responsável por um colapso geral do mundo.


Era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que talvez não aguentaríamos. Sim, tempos longínquos, que deixam saudade, e, por isso, parecem chegar em boa hora para despertar um pouco de alegria nostálgica em um planeta dominado pela pandemia do Coronavírus. As marcas, então, apostam como loucas nas tendências do início do milênio para garantir seu público consumidor. E foi nesse cenário que o mercado de fast fashion ganhou mais um forte integrante: a Shein.


Fast fashion


A Shein é uma marca que funciona unicamente por vendas online e entrega mundialmente, começando suas atividades no Brasil em 2018. Porém, foi com a quarentena e o aumento de e-commerce que o marketplace parece ter ganhado mais nome. A maioria dos jovens o conhecem a partir do TikTok, rede social onde a marca é ativa e posta os famosos Hauls, em que os usuários se filmam com as roupas compradas no site, muitas vezes avaliando o produto. O algoritmo democrático do aplicativo fez com que rapidamente esse tipo de vídeo se alastrasse por todos os lugares e os internautas desejassem ter a mesma peça utilizada por alguém do outro lado do mundo.




O fato é, como o próprio lema da marca diz, "Todos podem aproveitar da beleza da moda", pois seus produtos possuem um preço relativamente acessível e de muitos tamanhos. Assim, alguém que usa tamanho 54 e possui dificuldades de achar uma peça do momento, vai rapidamente nas ferramentas do site, coloca seu número e modelo, e aparece aquele mesmo vestido tubinho comprado por alguém que usa 36.



Sim, parece muito a Shein ter revolucionado o mercado fast fashion e aberto espaço a quem não acha roupas em qualquer loja do shopping, e ainda pagando pouco. É por causa disso que especialmente as pessoas da comunidade plus size defendem a marca e tem apoio daquelas com o “corpo padrão”, mas que adoram estar por dentro das tendências comprando no precinho.


A causa relacionada à desconstrução do corpo “ideal” feita pela Shein infelizmente esconde uma grande problemática que a marca propaga e intensifica significadamente: o consumismo desenfreado e sem responsabilidade social.


Em uma rápida pesquisa nos livros de história da moda, é possível descobrir que o termo Fast Fashion se instaura na sociedade nos anos 90, com o aumento de lojas da Zara, H&M, Primark e Forever 21 pelo mundo. Utilizando-se de matéria-prima barata, essas marcas são capazes de produzir algo acessível e que “imita” as tendências ditadas pelas grandes grifes, que geralmente só são consumidas por uma restrita elite da sociedade. Sabe-se, no entanto, que para conseguir um produto barato e com alta demanda, a mão de obra também precisa ser de baixo custo. Diante disso, temos milhares de pessoas de países subdesenvolvidos, sem nenhum direito trabalhista, trabalhando por horas, já que não há tempo de descansar em um sistema em que o produto possui baixa durabilidade e é substituível - ainda mais falando em específico da Shein, que, segundo o próprio site, diariamente adiciona mais de 3000 produtos no seu catálogo.


Moda consciente


Não é novidade que o proletariado trabalha para suprir as exigências das grandes marcas, gradativamente influenciadas a alimentar um capitalismo cruel, onde o lucro vem acima dos valores sociais. E é nesse cenário que surge um conceito interessante que busca debater e repensar essas ações consumistas ditadas pelo mercado: a sustentabilidade.


Referência de moda sustentável no Brasil, a stylist e consultora fashion, Chiara Gadaleta, afirmou que a moda do futuro é aquela que nos veste de consciência limpa, que pode e deve caminhar lado a lado das necessidades das pessoas e do planeta. E sustentabilidade tem tudo a ver com isso!


Em conversa com a estudante e entusiasta fashion, Lala Souza, de 23 anos, ela pontua: "A moda sustentável não é aquela para criar e produzir, mas a responsável por ressignificar e reutilizar aquilo já existente”. É um conceito ligado fortemente ao sentido dado à maneira de se vestir: não seriam suas escolhas fashion somente as peças vestidas para cobrir seu corpo e responder às normas sociais. Na verdade, elas representam sua essência e o que você quer passar para o restante da sociedade. Sim, moda é como uma carteira de identidade e se comunica.


Os defensores da sustentabilidade na moda acreditam que há outras maneiras de adquirir um produto sem ser direto da fábrica. Para eles, o afeto de explorar o guarda-roupa de alguém querido da família ou do ciclo de amigos, por exemplo, mostra o zelo em conhecer a história daquela peça e, ao adquiri-la, dá-la outros significados. Também existem os brechós, em que seus donos fazem a chamada garimpagem, ou seja, procurar produtos já utilizados, mas ainda com boa qualidade, para serem vendidos a um preço justo. É um processo muito pertinente, carregado de sentimento, e que coloca a pessoa acima do lucro.


Por outro lado...


O sistema sustentável, porém, como qualquer outro ideal, vem carregado de críticas e problemáticas. O primeiro deles está atrelado à falta de praticidade, pois, na maioria das vezes, garimpar um produto é muito mais trabalhoso do que ir numa loja online ou até mesmo física, em que já se conhece e, assim, pode-se comprar rapidamente o que deseja.


O segundo problema já envolve algo por vezes invisibilizado, mas que precisa ser ressaltado: a padronização dos corpos. Qualquer pessoa plus size está familiarizada com a dificuldade de achar algo do seu tamanho e ainda do seu gosto. Se garimpar é difícil para alguém tamanho 36, imagine para alguém que usa 16 tamanhos a mais… E por isso que o fast fashion é tão defendido por essas pessoas, ainda mais a Shein, que conta com diferentes estilos no seu catálogo.


A estudante Bárbara Gomes, de 20 anos, é compradora de brechó e veste manequim 54. Ela afirma não julgar o comprador plus size na Shein, pois compreende como é difícil achar as peças de tendências atuais nesse tamanho e em um preço acessível. Porém, defende que as pessoas consideradas com corpo “padrão” devem refletir sobre suas compras em fast fashion, pois elas não compartilham da mesma dificuldade. “A pessoa compra mais pelo comodismo. De ser na internet numa loja com preço ok, onde é mais fácil encontrar o desejado do que garimpar uma roupa física. Mas isso não justifica, pois a pessoa poderia aderir à moda sustentável”, opina.


É importante sim repensar os valores de nós como membros dessa sociedade. Na verdade, é uma reflexão acerca do significado que se dá à moda e por que é necessário se vestir de determinada forma. Sabemos que essas marcas fast fashion ditam um modelo a seguir para garantirem seu lucro, não visando às pessoas e suas singularidades. No início, era algo para se democratizar o mercado - e não vamos duvidar desse objetivo -, no entanto, o sistema capitalista parece ter substituído o subjetivo do vestir pelo seu valor de mercado.


Quando enxergamos esse sistema, é notório o quão injusto são as condições desumanas do proletariado para enriquecer quem já tem dinheiro. Também se enxerga que a moda não é só se vestir, mas uma forma de comunicação, e, por isso, é indispensável ter uma conexão com aquilo a ser consumido. Pensamos, então, como se conectar a uma marca sem histórico, informações dos seus donos e modelo de indústria - já que só sabemos que vem da China - e que não se comunica?


A Shein é só uma das integrantes desse sistema, mas vale como exemplo da importância do debate acerca desta realidade. É difícil quebrar uma ideia relacionada ao consumo que está desde sempre na mente das pessoas, mas vale para a Geração Z, como futuros adultos, sair um pouco da zona de conforto e refletir sobre a origem das suas roupas e o significado delas na sociedade.


 

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