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Foto do escritorMikhaela Araújo

"Toc Toc Toc - Ecos do Além": a maravilha da bizarrice

O irmão mais novo de "Barbarian" é mais um exemplo de como o terror pode ser esquisito e divertido


O terror é o gênero mais "marginalizado" de Hollywood. É um fenômeno raro um filme de terror ser indicado em premiações, principalmente no Oscar, a maior do cinema mundial. Poucos conseguiram o feito de serem indicados e ainda por cima vencerem. Recentemente, isso vem piorando, mesmo com ótimos representantes, como "Não, não olhe!" (2022) de Jordan Peele, "Hereditário" (2018) de Ari Aster, "X - A Marca da Morte" (2022) de Ti West e outros. Apesar do cenário pouco favorável, é um dos gêneros cinematográficos que mais se permite ser, como diz a internet, camp. E "Cobweb", traduzido para o Brasil como "Toc Toc Toc - Ecos do Além" - a única explicação aceitável e plausível para esse nome é uma analogia com o meme de certo discurso de certa ex-deputada federal - é o exemplo disso em 2023.


O longa, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (31), segue o exemplo de seus antecessores "Noites Brutais" (2022) de Zach Cregger, "Maligno" (2021) de James Wan ou até um grande clássico antigo e com certeza um dos maiores filmes de terror da história, "Possessão" (1981), do alemão Andrzej Żuławski. É a nova história fresquinha sobre um monstro que vive no obscuro, misturando suas referências num resultado satisfatório, apesar de não atingir a mesma excelência de seus mestres.


À primeira vista, "Toc Toc Toc" é um filme sobre Peter (Woody Norman), uma criança do subúrbio estadunidense que escuta, toda noite, barulhos estranhos vindos da parede do seu quarto, incluindo uma voz sinistra que chama seu nome. Seus pais, um casal que por si só já é extremamente assustador, interpretado de forma excelente por Antony Starr ("The Boys") e Lizzy Caplan ("Meninas Malvadas"), descreditam o filho, alegando que é apenas sua "imaginação fértil".


Em certos momentos, o molde de base do filme me lembrou "O Telefone Preto" (2021), que também acompanha crianças desamparadas que se veêm sozinhas e precisam lidar e encarar seus medos de frente. Peter, além de ser aterrorizado na hora de dormir, também é aterrorizado na escola, onde sofre bullying. Por se sentir tão sozinho, o garoto começa a ficar cada vez mais curioso sobre a figura misteriosa que vive atrás da sua parede e que começa a lhe pedir ajuda. Afinal, ela parece ser a única que o escuta e se importa com ele.


Com roteiro escrito por Chris Thomas Devlin, a trama de "Toc Toc Toc" traz, propositalmente, diversos aspectos comuns a qualquer filme clichê de terror, tudo bastante bem ambientado numa atmosfera sombria de época de halloween. O nome da cidade em que se passa a história, Holdenfield, é uma referência óbvia ao clássico "Halloween" (1978). O local é marcado pelo desaparecimento sem explicações uma garotinha. Até a professora, Sra. Devine (Cleopatra Coleman), que se afeiçoa ao protagonista, é uma figura clássica em vários longas de suspense.


A ambiguidade entre o convencional e não convencional segue o primeiro e o segundo ato do filme. Contos infantis parecem ser referências de "Cobweb" também, desde as histórias dos irmâos Grimm até "Coraline". Ainda no segundo ato do longa, há uma cena sinistra envolvendo os personagens de Caplan e Starr, sendo com toda certeza uma das melhores e um dos pontos de virada de chave do filme.


Ainda sobre a ambientação, outro trunfo está na bizarrice, sempre presente. É entendível, pelos elementos apresentados, que o filme se passa nos dias de hoje, mas outros elementos fogem do lugar comum, como um jardim de abóboras enorme na casa da família e todos os seus objetos dentro, como o uso de um telefone fixo antigo pelos pais de Peter. Além disso, a forma que eles escolhem como educação do filho é peculiar e tóxica, trazendo um ar ultrapassado e hostil que funciona.


Outro destaque de "Toc Toc Toc" vai para os movimentos de câmera, tanto dentro da casa escura e enfadonha, quanto fora, pelas ruas da cidade e na escola de Peter. A fotografia de Philip Lozano brinca bastante com sombras, obscuridade, silhuetas e planos interessantes.


O ponto fraco do longa fica nas suas últimas cenas, que acabam arrastando desnecessariamente o final, depois de uma sequência insana em seu terceiro ato que prende a atenção e causa desconforto e tensão ao mesmo tempo. "Cobweb" poderia ter acabado um pouco antes, mesmo sendo um filme rápido e de fácil digestão. Alguns diálogos entre os personagens também soam travados, de certa forma, mas não chegam a atrapalhar tanto a experiência.


Um mix de traumas de infância, pais abusivos e superprotetores, carência e rejeição, tudo com um toque sobrenatural. "Toc Toc Toc" surpreende, diverte, assusta e deixa bastante espaço para o inexplicável, se desprendendo de justificativas, construindo um universo sombrio e uma história ambígua que termina de forma mais satisfatória do que se apresenta em seu início. Bodin consegue fazer jus às suas inspirações e se firma como um nome a ficar de olho, entregando já na estreia um ótimo terror esquisito.


Veredito: 3,5/5

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