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Vida entre copas

Atualizado: 10 de mai.

Por Maria Clara Trajano, especial para a TAG Revista


Eu sonho com essa sexta estrela desde que eu entendi o que era Copa do Mundo. Isso foi em 2010.


Sou um bebê do penta. Nasci em 2002, algumas semanas antes do mundial. E enquanto o Brasil fazia história se tornando a única seleção cinco vezes campeã do mundo, minha mãe pulava devagar na sala de casa, me abraçando firme enquanto tentava me fazer dormir por uma noite que fosse, como já tentava há um mês e continuou tentando por mais seis.


Minhas memórias com o futebol mundial começam a aparecer por volta de 2010 mesmo, com intervalos de exatos quatro anos entre cada uma. Na verdade, nunca liguei de verdade pra futebol. Só queria ser hexa mesmo, experimentar a alegria de ver, de fato, pela primeira vez, o Brasil campeão.


Experimentar a distância de mais uma vitória entre as outras campeãs do mundo, que estampam em suas camisetas apenas quatro estrelas. Eu queria que a gente fosse mais especial, que continuássemos sendo os maiores campeões, os únicos com mais vitórias.



E, quando uma seleção se tornou tetracampeã, em pleno Maracanã, logo depois de ter vencido o Brasil da forma mais humilhante possível, meu mundo caiu. Agora tem mais uma perto da gente. Vou ter que esperar mais quatro anos para nos distanciarmos e voltarmos a sonhar.


Esperei quatro, depois oito, e agora somarão 12 anos desde o fatídico 7x1. 24 anos de jejum. 24 anos vai ser minha idade em 2026, quando a Seleção Brasileira talvez tenha uma nova chance de ser um pouquinho mais especial sob minha ótica meio falha.


Minhas histórias de Copas vão seguindo assim, lembrando cada derrota desde a África do Sul. E cada vez que perdemos, parece que me sinto mais triste. Quanto mais eu cresço, mais me perturbam os resultados. Será que o Brasil só vai ser campeão novamente no ano que eu tiver um filho? E as histórias dos bebês das Copas vão seguir pela minha família? Espero que não.


Não sei porque queria tanto ser Hexa. Acho que será igual comprar uma coisa inútil pela internet: a espera te deixa ansioso, a chegada te dá um pico de felicidade naquela primeira meia hora que se estende desde receber o pacote, abri-lo e investigar rapidamente o produto.



Depois a euforia passa, nada na sua vida muda e você deixa o objeto de lado, esquece que ele existe, até que em quatro anos, no meio de uma faxina, você o reencontra e se reencontra com quem você foi há quatro anos, e com aquele momento de breve euforia. E como você ficava feliz com coisas tão simples! Sua vida parecia tão difícil, mas olhando agora tudo parece simples.


Você se lembra saudoso daquelas Copas do Mundo, dos tempos de escola, dos seus colegas tentando assistir aos jogos durante as aulas. Você lembra de outros presidentes, de outras músicas, de gente que se foi, de uma época que você nem sabia que seu cônjuge existia, e hoje você não consegue nem pensar em uma vida diferente. Você lembra dos sonhos que não tinham explicação, de amores que nunca foram resolvidos e conversas que ficaram pra depois e o depois nunca veio.


Você também começa a pensar o que você estará fazendo daqui a quatro anos. Se eu começar a me organizar agora, será que eu consigo viajar para assistir a próxima Copa? Será que estarei viva para ver a próxima, mesmo que seja na sala da minha casa?


Termino a faculdade, me caso, tenho filhos. Eles crescem, a vida continua. E aquela sexta estrela vira história, aquela estrela que deveria me dar uma vida mais especial já não importa, e não deveria importar agora. Em quatro anos ela vai voltar aos meus sonhos sem explicações mas, por ora, vou vivendo entre Copas, marcando as mudanças da minha curta vida e do mundo ao meu redor através de um campeonato de futebol que não deveria significar nada pra mim. Mas no fim das contas, significa.

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