"Wicked: Parte Um" emociona e prova que um ótimo musical pode ter uma boa história para contar
Atualizado: 23 de nov.
O longa estrelado por Cynthia Erivo e Ariana Grande consegue nos transportar para a magia de Oz
Quando iniciou as conversas sobre uma possível adaptação para o cinema do famoso musical Wicked, muitas especulações e até críticas sobre a escolha do elenco e produção tomou as redes sociais. Precisava mesmo levar para as telonas uma história clássica, aclamada e reconhecida? A expectativa estava muito alta quando saíram as primeiras fotos de bastidores, o primeiro trailer e as entrevistas com a dupla de protagonistas em uma sintonia ímpar. Digo, sem nenhum receio, que toda a expectativa em torno da produção foi completamente suprida em duas horas e meia de filme.
Wicked: Parte 1 é ambientado antes dos acontecimentos do clássico O Mágico de Oz. Elphaba é uma jovem bruxa que sofre com a rejeição da família por ter a pele verde. Um dia, ao levar a outra irmã para a Universidade Shiz, encontra Glinda, uma menina mimada e popular que tem tudo o que quer e sonha aprender mais sobre bruxaria. A amizade pouco provável, e muito pela diferença de personalidade, fica ainda mais forte quando elas se juntam para conhecer o grande Mágico de Oz. A partir de outros acontecimentos, a relação entre elas chega a uma encruzilhada difícil.
Com direção de John M. Chu., o longa é uma adaptação do musical da Broadway de Stephen Schwartz e Winnie Holzman, que foi baseado no livro Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, de Gregory Maguire. Cynthia Erivo, Ariana Grande e Jonathan Bailey protagonizam brilhantemente o filme. Também estão no elenco: Michelle Yeoh, Jeff Goldblum, Marissa Bode e Ethan Slater.
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É um novelão
Quem não gosta de musical terá um grande problema assistindo, já que nos primeiros minutos é mostrado uma grande cena coletiva em que todos cantam, dançam e encantam. Apesar do filme começar no alto, em uma comemoração coletiva após a morte da Bruxa Má, a Elphaba, as histórias e situações vão acontecendo aos poucos. Como se fosse um imã, você vai ouvindo e desconfiando das narrativas que vão sendo contadas.
A sensação que dá desde o começo é que você está em uma montanha-russa que vai subindo devagar até chegar no ápice. As reviravoltas com certeza são os momentos em que o carrinho vai descendo de uma forma rápida e arrebatadora. A história tem um ótimo fio condutor e vai se apoiando nisso o tempo todo para instigar o espectador até o final.
Há momentos de certa baixa, um pouco na metade do filme, quando o enredo dá uma empacada e algumas cenas parecem repetitivas, sobretudo nos diálogos entre Elphaba e Glinda. Mas nada que dure por muito tempo, no final conseguimos compreender que aquilo faz sentido no contexto geral, para causar proximidade.
As cenas de musical continuam durante todo o filme, mas nada que incomode ou atrapalhe, como vimos em outras produções por aí. Elas fazem parte do enredo e não são cansativas, o que também se deve pela qualidade da cena em si, como também dos atores que conseguiram imprimir veracidade.
Plasticamente, o filme tem um grande problema na fotografia. Tudo parece claro ou escuro demais em algumas cenas, não há uma medida certa nem um bom contraste entre as paletas. Até mesmo o tom da pele de Ariana Grande foi mudado, ela parecia ser mais clara do que é, uma coisa bem estranha. O rosa e verde são bem explorados para criar essa diferença entre as personagens, o que achei um pouco demais.
Em compensação, os figurinos e maquiagens dão um show a parte com a personalidade de cada um, sobretudo da dupla protagonista, sendo traduzidas nos vestidos, sapatos, cores, tudo. Os efeitos visuais não são ruins e convencem facilmente sobre as mágicas que acontecem.
Acredito que os plot twists vão surpreender até quem já conhece a história, caso estejam envolvidos e absortos no caos que acontece na parte final. A maneira que as situações acontecem vai criando um ambiente de tensão principalmente nas salas de cinema. Não fique assustado caso alguém do seu lado se expressar, mesmo que seja por uma onomatopeia qualquer, até quem assistiu na cabine de imprensa reagiu.
O filme pede que você reaja, questione e fique tentado a assistir tudo até na velocidade 2x, só para saber logo o que vai acontecer na próxima cena. Essa mistura de sensações que ataca quem não sabe da história, ou até quem já sabe de cor e salteado, é o grande trunfo do diretor, que soube contar o mais do mesmo de uma boa forma.
A primeira coisa que me passou pela cabeça quando terminei de assistir o filme foi: é possível que Gilberto Braga ou Walcyr Carrasco estejam envolvidos nisso? O primeiro autor pelos diálogos inteligentes e atuais e as reviravoltas surpreendentes, o segundo pela canastrice boa e humor. Eu só conseguia pensar que Wicked é uma grande novela, aquela dos anos 80/90 que bate 40 de audiência em um dia de revelação de quem matou o vilão.
Elenco primoroso entrega atuação primorosa
É provável que o grande acerto da produção tenha sido escalar Cynthia Erivo e Ariana Grande para interpretarem Elphaba e Glinda, respectivamente. E digo isso não só pela qualidade vocal da dupla, que não deixa a desejar em nenhum momento, mas também por conseguirem trazer algo de diferente na personalidade de personagens tão marcantes.
A escolha por uma atriz negra para o papel de Elphaba é algo realmente a ser ressaltado. A história original não define a personagem como uma pessoa preta, mas fica implícito que ela sofre discriminação apenas por não ser igual aos outros.
Mas sabendo que Cynthia dá vida a bruxa, se torna impossível uma pessoa preta não se identificar com as provocações que a personagem passa durante todo o filme. Principalmente nas cenas em que ela precisa se antecipar e falar para as pessoas, que se assustam quando a veem, que a cor dela é normal, que não tem problema com isso. As metáforas funcionam de uma forma muito sutil e atingem em cheio o público que já foi marginalizado em algum momento por conta da sua etnia.
Não foi uma surpresa a grande atuação de Cynthia no filme. A atriz vem galgando aos poucos mais papéis importantes para a carreira no cinema e segue nos dando performances arrebatadoras. O mesmo acontece com Ariana Grande. É um deleite assisti-la desde os primeiros minutos em cena trazendo o foco para si, como a personagem exige. As duas realmente são a Bruxa Má do Oeste e a Bruxa Boa do Sul.
O toque refinado de humor é ótimo de acompanhar, nada exagerado, mas nada que falte. Tudo é completamente dentro da medida ideal e correta. Também destaco Jonathan Bailey, que nos convenceu fácil ser um príncipe charmoso, emotivo e brincalhão. Todo o elenco parece estar em uma sintonia ímpar.
Os fãs do Mágico de Oz não sairão decepcionados dos cinemas porque o filme prioriza contar a história já conhecida, sem firulas ou mudanças. O grande diferencial mesmo está na qualidade da produção e no talento dos atores. Apesar dos pesares, é um filme visualmente bonito de ver e emocionante de se assistir.
Não que precise provar nada, mas visto a onda de desgosto do público em relação a musicais, o diretor consegue mostrar que a prioridade de todo filme, independente do gênero, é contar uma boa história. E Wicked: Parte Um consegue nos transportar para o mundo rosa e verde encantado. Agora, nos resta esperar a segunda parte que estreia em 2025.
Veredito: 4,8/5
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