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"É Assim que Acaba": adaptação é fiel, mas ainda pode desagradar

Atualizado: 21 de ago.

[Atenção: este texto pode ser sensível para algumas pessoas por tratar de assuntos como violência doméstica. Recomendamos cautela.] 


Personagem de Blake Lively segura o rosto de Justin Baldoni com as mãos em olhar apaixonado
Justin Baldoni dirige e protagonista longa ao lado de Blake Lively | Foto: Divulgação

Existe um questionamento frequente, principalmente em mulheres, quando presenciamos algum tipo de violência doméstica entre um homem e sua companheira. "Por que ela ainda está com ele?", ecoa uma, duas, três vezes. "Não é só largar ele?", complementa o próprio pensamento. 


Aqui, não posso generalizar e falar por todas as mulheres do mundo, mas assumo minha culpa nesta linha de raciocínio que, só há pouco tempo, descobri não só ser injusta - como também cruel. Foi a oportunidade de ler o controverso É Assim que Acaba que me trouxe uma visão mais profunda, complexa e empática sobre essas mulheres, e principalmente sobre suas escolhas de ficar ou não


Considerado um "sucesso do TikTok" (o que pode ser algo considerado muito bom ou muito ruim), É Assim que Acaba é um livro de autoria da polêmica Colleen Hoover, e que, em 2024, ganha sua adaptação cinematográfica tão esperada pelos fãs.  O longa, que promete fazer barulho nas bilheterias - principalmente brasileiras - é estrelado por Blake Lively, e conta a história de Lily Bloom, uma mulher que se envolve com Ryle Kincaid (Justin Baldoni), ao que parece ser um relacionamento "ganhado na loto". 



Muito além da página 2 


Atriz Blake Lively como a personagem Lily Bloom com cabelos ruivos e um macacão
Blake Lively é Lily Bloom em 'É Assim que Acaba' | Foto: Divulgação

Um dos pontos positivos da adaptação de É Assim que Acaba com certeza é a química entre Lily e Ryle - que é fundamental para que o público se apaixone por ele tanto quanto ela. Ainda assim, o roteiro faz questão de "avisar" ao público com alguns sinais de que algo não está certo neste cenário. Enquanto rapaz e mocinha se envolvem, a trama apresenta uma terceira peça chave neste desenvolvimento: Atlas (Brandon Sklenar), um ex-romance de Lily vivido na adolescência, mas que marcou sua vida para sempre. 


A chegada deste terceiro elemento traz à tona os problemas de Lily e Ryle e a violência física que começa a partir disso e que, no filme, é retratada com uma elogiável dubiedade. O longa, assim como a protagonista, leva o público a crer no que ela acredita, no que ela vivencia, e isso inclui também a visão que ela mesma tem sobre ter sofrido ou não violência doméstica. 


É Assim que Não Desenvolve 


Quando se fala da direção, Justin Baldoni parece ter se preocupado apenas em desenvolver camadas para o próprio personagem. O público conhece bem as camadas de Ryle e "entendem" seu background para além do neurocirurgião violento, sem precisar de muita explicação dos próprios personagens. 


Lily Bloom, vivida pela carismática Blake Lively, conquista os personagens e protagoniza uma mocinha que tem a famosa personalidade "diferente das demais" - mas que aqui convence. Ainda assim, a escolha de não ser um filme com narração em primeira pessoa foi algo arriscado, já que é essencial acompanhar os pensamentos e reflexões de Lily, antes, durante e depois das agressões. 


Neste sentido, é importante destacar a ausência de um bom desenvolvimento entre Lily e a mãe, Jenny (Amy Morton). Aqui, seria essencial conhecer e se aprofundar no passado das duas para entender melhor como elas se relacionam no presente. Jenny, uma mulher que sofria violência doméstica constantemente do marido, escolheu ficar e, ao mesmo tempo, recebeu julgamentos e questionamentos da filha, até o momento em que ela ocupou seu lugar na história. O roteiro deixa de lado a relação e complexidade de ambas as personagens e dá lugar a diálogos frios, vazios e que no fim não trazem aquilo que é mais valioso e está presente no livro: a empatia. 



Livro x Filme 

Um homem em pé trajado como um garçom e uma mulher ruiva sentada em um restaurante
Lily e Atlas na adaptação de 'É Assim que Acaba' | Foto: Divulgação

Seria interessante acompanhar, no filme, as reflexões de Lily sobre um assunto tão delicado para ela no passado e que, agora, é ela que se vê entre a decisão de ficar ou não. A gravidez da protagonista e seus pensamentos sobre paternidade, ser mãe solo e rede de apoio também adicionam mais uma camada para entender suas escolhas.


Em suma, todos os elementos que tornam a obra escrita de Colleen Hoover algo minimamente complexo, empático e palpável para a realidade de muitas mulheres atualmente foram supridos no filme. A razão disso e falta de sensibilidade podem ser apontadas também por uma direção de olhar masculino, que falta com o aprofundamento em diversos sentidos. 


Falando tecnicamente, as cenas mais sensíveis são bem construídas de tensão, e a escolha de “revelá-las” como agressão apenas posteriormente é um acerto - já que acompanhamos a visão da protagonista em enxergá-las. A falta de química entre Lily e Atlas na adaptação é algo notável, e até mesmo um personagem com tanto background como ele não recebeu a atenção que merecia. Para o público que leu a obra, fica a constante comparação entre o filme e o livro, ao mesmo tempo que pode-se dizer que a adaptação é algo fiel (e, felizmente, sem as cartas para Ellen). 


Quando se fala do livro É Assim que Acaba, a reação das pessoas varia de empolgação a total desprezo pela obra. É normal. Colleen Hoover erra e acerta em diversos momentos. Agora, com o lançamento do filme, é possível que esse tipo de reação se repita. 


Veredicto: 2/5 


Se você é vítima de violência doméstica ou conhece alguém que está sofrendo, é importante saber como denunciar e se proteger. Existem várias maneiras de denunciar a violência, incluindo o Ligue 180, que é um serviço gratuito e confidencial disponível para mulheres em todo o país. 


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